14.7.12

Para falar de coisas autênticas

Por Ferreira Fernandes
A ELEIÇÃO de François Hollande foi e é assunto de editoriais e análises, calhamaços de textos. Mas, no fim do ano, quando os franceses elegerem o facto de 2012, provavelmente escolherão um texto de 140 caracteres (metade do que eu já escrevi até aqui): o tweet de Valérie Trierweiller. A atual companheira de Hollande, dias depois da vitória presidencial, fez um textozinho que liquidou a carreira política da anterior mulher dele, Ségolène Royal. Esta também era uma poderosíssima figura, chegou a ser candidata presidencial, mas o que levou ao confronto das duas foi um comezinho sentimento, o ciúme. Quer dizer, entre eminentes filósofos e pensadores políticos que são citados para explicar a atual França, nenhum conseguiu falar dela melhor do que o velho Shakespeare, de quem se não conhece nenhuma teoria, mas tudo nos disse sobre o essencial de nós.
Porque escreveu muito sobre a ganância, lembrei-me dele a propósito da Cristina e do Luís. Vocês sabem, namorados e remediados, aconteceu-lhes a enormidade de 15 milhões, no Euromilhões. Gozaram--nos? Não, puseram-se a discutir o dinheiro, como se, para namorados e remediados, houvesse alguma diferença entre 7,5 e 15 milhões! Perderam cinco anos, irremediavelmente perdidos, sem poderem ter nada daquele tudo imenso, até que um tribunal se apiedou e foi salomónico. Vá lá, que a ganância deu-lhes um prémio: separou-os. Dois tolos juntos com tanto dinheiro era perigo a mais.
«DN» de 14 Jul 12

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