6.8.12

O assaltante, o tiro e a lição de Gao

Por Ferreira Fernandes
ONTEM, iam três tipos a assaltar gente. Pela hora, sete da manhã, e o local, o comboio de Sintra, as vítimas deviam ser gente modesta - o que me comove mais, haver polícias a proteger desapossados de tanta coisa, até de segurança. Esperei que os polícias tivessem sido enérgicos e eficientes. E eles foram, apanharam dois dos assaltantes. Olhem um facto simples: profissionais que fizeram o que deviam. O terceiro assaltante, fugindo pela estação de Campolide, foi baleado por um polícia e morreu. Este já não é um facto simples. Isto é, parte de uma verdade simples: ninguém pode ser morto por ninguém, nem mesmo um assaltante. E que ainda é mais verdade para um polícia, a quem damos o privilégio de andar com uma arma. 
Ponto final sobre o assunto, culpa do polícia? Não, porque pode haver justificações para o tiro. É que a realidade atrapalha a verdade simples: o polícia podia estar em perigo de vida, o polícia podia ter caído e disparado sem querer... Há que tirar o facto a limpo. Mas, ontem, as caixas de comentários dos jornais encheram-se de certezas incivilizadas, aplaudindo o tiro. 
Eu digo o que é civilização, também vinha ontem nos jornais. Em Gao, Mali, os islamistas que ocuparam a cidade anunciaram o corte da mão de um ladrão. A população ocupou a praça e impediu a execução: "Eles não vão cortar a mão à nossa frente." Se pode haver gente civilizada numa cidade ocupada, como há tantos incivilizados nas nossas cidades?
«DN» de 6 Ago 12

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1 Comments:

Blogger Ritinha said...

Eu sei que é como pregar no deserto, mas não desisto: Um seguidor do islamismo é islamita e não "islamista" (etim. islame + ita).
Parece que deu na moda, os jornalistas fazem de caixa de ressonância uns dos outros, a asneira de um propaga-se de tal maneira que chega tornar-se "ortografia geralmente aceite como correcta".

6 de agosto de 2012 às 14:31  

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