4.8.12

O estilo Fosbury expôs a musa britânica e o seu bocadinho a mais

Por Ferreira Fernandes
OS HOMENS que fiquem lá com o seu decatlo, o heptatlo é naturalmente para as atletas perfeitas. Porque sete são as maravilhas, as cores do arco-íris e os pecados mortais. 
A pintar o sete, ontem, esteve Jessica Ennis. Impossível andar por Londres sem dar por ela, em placards de 15 metros de altura. A foto é frontal e, apesar de britânica (Sheffield, 1986), Ennis parece-se, 20 anos mais nova, com Jennifer Lopez, latino-americana, testa alta e lábios não muito grossos. Se a foto não fosse frontal a impressão confirmava-se. 
Ex-campeã mundial do heptatlo, Ennis (o nome lê-se muito porque as câmaras gostam de se aproximar do dorsal) guardou-se para os JO de Londres. O comité olímpico britânico fez dela a sua musa, daí os cartazes, que são também dos muitos sponsors: ela é a primeira atleta inglesa a ganhar um milhão de libras em publicidade. Este mês de agosto, a revista Cosmopolitan fê-la capa. E, ontem, como disse, lançou-se ao ouro com uma fome de anteontem: correu a prova dos 100 metros barreiras em 12.54 s! 
No heptatlo o que é preciso é ser muito boa em sete provas, não supercampeã: ora, com aquele tempo, em Pequim, há quatro anos, Jessica Ennis seria medalha de ouro na prova simples de 100 metros barreiras... 
Em maio passado houve um pequeno escândalo. Tony Minichiello, o seu treinador de sempre, disse aos jornais que um dirigente do atletismo britânico acusou Ennis de "gorda". Seguiu-se uma polémica que só foi desfeita pela própria com um sorriso: "O assunto ganhou proporções, não eu." Ontem, depois da corrida, passou-se para o salto em altura. Aí, ela só foi a quinta (1,86 m). A culpa foi de Dick Fosbury, vocês sabem, o americano que, em 1968, inventou rodar e ir de costas no salto em altura, e na passagem maravilhosa de Jessica Ennis a fasquia desfaleceu. Confirmou-se um bocadinho a acusação daquele dirigente britânico, mas até o que a faz perder é belo.
«DN» de 4 Ago 12

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