5.9.12

São perguntas que me assaltam

Por Ferreira Fernandes
QUE PASSARÁ na cabeça de um troiko, vendo o desfilar dos diversos espécimes lusitanos? 
Quando chega o do patronato, o troiko vai à janela ver qual o modelo do Mercedes, se tem jantes de liga leve, se o motorista usa farda? 
Aos sindicalistas recebe com um sorriso trocista, género "ainda não viste nada"? 
Aos da oposição, o troiko acirra: "Sabem que os do Governo pediram mais dinheiro?" 
Aos do Governo, diminui: "Não me parece que vocês tenham mão nesta malta"? 
Há um troiko bom e um troiko mau, como na Pide? 
O da Comissão Europeia diz: "A gente ajudava mais, mas aqui o do FMI não deixa"? 
O do FMI assume: "Lá isso podes crer, connosco vocês já estavam no olho da rua da Europa..."? 
O do BCE escangalha-se a rir com a confusão do espécime lusitano perante a fita dos outros dois colegas troikos? 
Algum dos troikos bocejou na presença dos portugueses que recebia? 
Claro que nenhum dos portugueses levou boina (as boinas já não se usam), mas algum sentiu formigueiro nos dedos, como se segurasse uma boina, colada à barriga e com as duas mãos, como antigamente os capatazes faziam na presença do senhor morgado? 
Era sempre um troiko a dizer: "Sentem-se"? Tantas perguntas... 
Desculpem, mas ninguém me fala disto. Tanto microfone estendido, tanto representante nosso recebido e disponível para declarar, e nem uma dessas perguntas saiu. Nem esta, tão simples: mas se são os troikos que nos visitam, porque são eles a receber-nos?
 «DN» de 5 Set 12

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