1.9.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
FICA BEM a Francisco Louçã a decisão de não se recandidatar ao lugar de coordenador do Bloco de Esquerda, sobretudo pelo que revela de desapego do poder e de disponibilidade para a renovação dos cargos dirigentes, mas também pela raridade do gesto entre as figuras que ocupam lideranças políticas. E Louçã alcançara já o estatuto de mais antigo líder partidário em funções: 13 anos à frente do Bloco e 34 anos no total, se contabilizarmos os 21 anos em que liderou o PSR (e deixando de lado os outros 5 anos na LCI).
Louçã não resistiu, no entanto, a duas tentações que deslustram o seu retrato na hora da saída. A primeira foi a de querer dourar a pílula da sua liderança e do actual peso político do BE, ao repetir, uma e outra vez, nestes últimos dias, que sai com excelentes «sondagens que vão indicando subidas do apoio popular» ao BE. Acontece que a maioria das sondagens coloca hoje o Bloco na casa dos 5% a 6% e em último lugar entre os partidos parlamentares. Reproduzindo, de resto, a enorme queda das legislativas de há um ano, quando o Bloco de desmoronou eleitoralmente caindo de 9,6% para 5,2% e perdendo 8 dos seus 16 deputados. O momento não é, pois, de subida mas de refluxo, por muito que custe a Louçã admiti-lo.
A segunda tentação foi a de querer impor uma espécie de sucessão dinástica, com o original modelo de uma liderança bicéfala e paritária que quer deixar como herança e que, pelos vistos, está longe de ser partilhada pela restante direcção do BE. Se Cunhal designou Carvalhas, Louçã nomeia Semedo e Catarina...
Restam, ainda, fundadas dúvidas sobre o lugar que Louçã irá ocupar no futuro do Bloco (excluída que está a hipótese de, tal como Cunhal, criar para si próprio o cargo de presidente do Conselho Nacional do partido...). Matéria em relação à qual o líder de saída tem sido muito vago e indefinido.
A hipótese de ser candidato presidencial em 2016, além de distante, não adianta nem atrasa: já o foi em 2006 com péssimos resultados (5,3%, atrás de Jerónimo de Sousa) e nunca terá o apoio do PCP ou do PS. Candidato para quê?
João Semedo, putativo novo líder, diz com optimismo que a sombra de Louçã «será sempre uma sombra à sombra da qual o Bloco não se importa de estar». Estaremos cá para ver. 
«SOL»

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