Hoje já clicou com o seu vizinho?
Por Ferreira Fernandes
NA ÚLTIMA 'Sábado', o jornalista Luís Silvestre conversa com a cientista
britânica Susan Greenfield, especialista dessa transformação tremenda
que está a acontecer no nosso cérebro com os computadores e outros
saberes de ponta dos dedos.
Já uma vez, na pré-história, os dedos - o
facto de o polegar ser oponível aos outros - nos aumentaram o cérebro.
Pois há dias vi um movimento em sentido contrário. Um desenho,
naturalmente feito por computadores, do homem do futuro: vamos ser mais
feios, cabecinha mais de ervilha, porque não precisamos de tanto espaço
para a memória.
Como eu percebo essa previsão. No liceu eu era campeão
das capitais, até sabia de nomes hoje desaparecidos de cidades, como
Santa Maria Bathurst (fui ver: hoje, Banjul, capital da Gâmbia), mas
custava-me horas a decorar. Agora, com dois dedilhares, sei quantas
pizarias há em Mendoza, Argentina, e em que rua ficam. E logo esqueço,
estreitando, se não a minha cabeça, a dos meus descendentes.
Voltando à
entrevista da cientista, encontro um alerta para uma perda, não essa
hipotética do tamanho da cabeça, mas não menos preocupante: a da
empatia. Susan Greenfield diz: "As relações entre as pessoas precisam de
muito treino, cara a cara, e há uma nova geração que só comunica por
computador." Tele, isto, tele, aquilo, vamos cada vez mais longe, quando
o que mais falta nos faz é falar com o vizinho.
Foi bom ouvir uma
cientista falar da necessidade do "cara a cara".
«DN» de 29 Out 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home