O Papa abençoa a zona de conforto
Por Ferreira Fernandes
MUITOS séculos a proclamar a importância do Verbo dão nisto: conhecer o valor das palavras.
Ontem, o Papa Bento XVI, depois de referir a importância do direito a emigrar - que é poder partir porque se quer - lembrou: "Não emigrar é um direito fundamental."
Regressado de peregrinações recentes ao Médio Oriente, onde as comunidades cristãs são empurradas, obrigadas a sair, o Papa, além desse drama, falou também da emigração por causas económicas e sociais, desse "calvário para sobreviver, onde homens e mulheres aparecem mais como vítimas do que como responsáveis pela aventura da emigração".
No discurso, atente-se à repetição da palavra "direito". Direito a emigrar, direito a não emigrar. Os direitos exercem-se ou não, conforme a vontade do sujeito da ação, do homem que aqui interessa: aquele que parte, porque quer, ou fica, porque quer. Aos outros não cabe meter o bedelho nessa decisão.
Claro que estas palavras sábias de Bento XVI, se ditas há um ano, teriam poupado ao nosso primeiro-ministro um erro de comunicação notório. Não recear ir para fora da sua zona de conforto, olhar a vida de peito feito, querer partir, é decisão individual. Quem a pondera pode estar disposto a ouvir conselhos de um amigo. De um chefe de Governo, ouvir a sugestão de que parta, soou-lhe a não sei o quê. Agora, já sabe, disse o Papa: é tentativa de violação do seu direito a não emigrar.
Resumindo, emigrar, alguns gostam, empurrados, ninguém.
"DN" de 30 Out 12Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Pequeno comentário em vernáculo pertinente:
De um chefe de governo [com minúscula], ouvir a sugestão de que (se) parta soou a... «filha-da-putice»
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