A exceção num dia normal
PORTUGUESES fizeram greve e manifestaram-se, não fizeram greve nem se
manifestaram, fizeram greve sem se manifestarem e outros, por não
poderem fazer greve (estão sem emprego), manifestaram-se, e até houve
quem não fosse trabalhar porque outros faziam greve. Dia normal, o de
ontem.
O líder da CGTP considerou exemplar a greve, o Presidente
trabalhou (recebeu um colega) mas considerou que "o direito à greve deve
ser respeitado". Dia normal.
Em Lisboa, o cortejo sindical desembocou,
como já se torna tradicional, frente ao Parlamento e depois do discurso
do líder sindical os manifestantes debandaram. A greve exigia medidas
políticas e a Assembleia da República era o local certo; e foi normal o
ir para casa, os da CGTP são conhecidos por ordeiros.
Normal, ainda,
embora já não institucionalmente normal, que um punhado tenha ficado no
sopé da escadaria do Parlamento. Desse punhado choveram pedras sobre a
polícia.
Repito, normal. O mundo seria enfadonho se todos fizessem tudo
pelas regras e leis. Já não acharia normal que à polícia lhe desse para
se pôr aos tiros, mas ela portou-se normalmente, varreu à bastonada os
das pedras.
Tudo normal, ontem. Excepto, claro, aquele rapazola,
ex-indignado (recente), que sentado num muro mostrava o dói-dói a dois
polícias, complacentes. Queixava-se de quê?! Os polícias melhoraram, e
isso é normal, mas já os rapazolas indignados, não. Estão demasiado
sensíveis. É isso normal?
«DN» de 15 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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