Diretamente da escadaria, o poeta
A MELHOR reportagem sobre os momentosos acontecimentos da escadaria do
Parlamento, encontrei-a ontem num blogue, o Delito de Opinião. Dizia:
"Não te candidates nem te demitas. Assiste./ Mas não penses que vais rir
impunemente a sessão inteira./ Em todo o caso fica perto da coxia."
Assinava a reportagem Alexandre O'Neill.
Vocês vão dizer: como crer em
factos narrados sobre anteontem, quando o homem já morreu há 26 anos?
Respondo: era poeta, vê longe. Eu, por exemplo, não sou, e fiquei-me
pelo que mais mexia: os rapazolas das pedras e os polícias que os
aguentaram, aos rapazolas e às pedras, hora e meia mas não eternamente.
Enfim, escrevi sobre o óbvio (que os revolucionários façam a revolução e
que os polícias policiem) e dei pouca atenção aos mirones. Mas esse
fluir fundo não escapou ao poeta. Eu com olhos nas pedras e nos bastões,
e O'Neill nessa improbabilidade de gente que nunca passa fora da
passadeira ficar ali a olhar a boçalidade dos rufias.
Ontem, a maioria
dos testemunhos era dessa gente, queixando-se de ter levado por tabela.
Ao que o poeta responde que não há espetáculos grátis. Queres ver pedras
atiradas? Então, prepara-te, "fica perto da coxia..." Aliás, o poema de
onde os versos são tirados abre com um conselho: "Não te ataques com os
atacadores dos outros."
Aqueles canalhitas das pedras, logo no começo
das manifes, são má companhia, não só no fim. (A José Navarro de
Andrade, que lembrou o poema, obrigado).
«DN» de 16 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
2 Comments:
CANALHITAS SÃO TB. TODOS AQUELES QUE FICAM A ASSISTIR...
...NO SOFÁ,ENTENDA-SE!
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