Duas irmãs, dois destinos
Por Ferreira Fernandes
O JORNAL O Globo noticiava ontem um documentário sobre Olinda Miranda. São raras as existências que precisam de mais prova de vida que esta Olinda. Ela é a contraluz da mais feérica brasileira: a sua irmã Carmen.
Nascem ambas em Marco de Canaveses, Portugal, onde a cama e a casa de Carmen estão assinaladas mas não as de Olinda. Juntam-se ao pai, barbeiro no Rio de Janeiro, com um ano (Carmen) e três (Olinda). Vão tornar-se duas bonitas adolescentes e com gosto de cantar. Mais bela e com melhor voz, Olinda, segundo Ruy Castro, o grande biógrafo de Carmen. Aos 17 anos, esta teve uma foto publicada em revista, aos 20 gravou os primeiros sambas e aos 21, em 1930, já era "a maior cantora brasileira" - uma carreira que a levaria a Hollywood, com filmes com orquestras de Benny Goodman e Xavier Cugat.
Mas volto à década de 1920, que viu despontar a estrela. Copacabana ganhava o seu hotel Palace, construía-se o Cristo no Corcovado, as adolescentes descobriam a telefonia e namoravam os remadores do Flamengo. Só mais tarde uma marcha lhe chamaria Cidade Maravilhosa, mas o Rio já o era. Pois, aí, aos 18 anos, Olinda ficou tuberculosa. Os pais mandaram-na para cá, para o sanatório do Caramulo. Fazem ideia do que era o frio Caramulo, anos 20, sem família? Olinda morreu lá, aos 23.
Entretanto, Carmen "o que é que a baiana tem" Miranda, lantejoulas, ananases, Copacabana, Hollywood...
O documentário deveria chamar-se "Não é Justo".
«DN» de 24 Nov 12Etiquetas: autor convidado, F.F
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