"Notícias, sim, mas não tantas!"
UMA PESSOA ao deitar-se promete: "Amanhã vou ao país vizinho." E vem o
amanhã, que é hoje, e dá-se conta que as declarações simples já não são o
que eram: mas a qual dos países vizinhos?
As eleições de hoje abrem
caminho a uma Catalunha e a um País Basco independentes, a uma República
das Canárias e uma Galiza a pedir-nos adesão. E esta última a trazer
outras reformulações: como explicar ao minhoto que uma vez foi a Vigo
comer marisco que, daqui a uns tempos, não, ele nunca foi ao
estrangeiro?
Estas eleições catalãs, com todas as reviravoltas que
anunciam, não são senão mais uma bizarria, da catadupa dos tempos
recentes. Aliás, são tantas as grandes mudanças que este terramoto maior
- sim, é isso que está a acontecer aqui ao lado - já nos deixa
indiferentes, como as anuais cheias devastadoras deixam os camponeses do
Bangladesh.
Em 1975, Freitas do Amaral foi a um encontro conservador na
Áustria e contou uma boutade. Que nas ruas de Lisboa os anarquistas
empunhavam este cartaz: "Anarquia, sim, mas não tanta!" Mas ainda não
tínhamos visto nada. Os americanos fora das Lajes e das equipas de
básquete de Aveiro, Portugal fora do Festival da Eurovisão, a mudança da
nossa moeda, não em euforia mas como condenação, o fim a prazo curto
das reformas e até a Margarida Rebelo Pinto, palavras dela, a ter de
fazer "um downsizing do meu lifestyle"...
"Notícias, sim, mas não
tantas!", parecem gemer os nossos jornais moribundos.
«DN» de 25 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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