25.11.12

"Notícias, sim, mas não tantas!"

Por Ferreira Fernandes
UMA PESSOA ao deitar-se promete: "Amanhã vou ao país vizinho." E vem o amanhã, que é hoje, e dá-se conta que as declarações simples já não são o que eram: mas a qual dos países vizinhos? 
As eleições de hoje abrem caminho a uma Catalunha e a um País Basco independentes, a uma República das Canárias e uma Galiza a pedir-nos adesão. E esta última a trazer outras reformulações: como explicar ao minhoto que uma vez foi a Vigo comer marisco que, daqui a uns tempos, não, ele nunca foi ao estrangeiro? 
Estas eleições catalãs, com todas as reviravoltas que anunciam, não são senão mais uma bizarria, da catadupa dos tempos recentes. Aliás, são tantas as grandes mudanças que este terramoto maior - sim, é isso que está a acontecer aqui ao lado - já nos deixa indiferentes, como as anuais cheias devastadoras deixam os camponeses do Bangladesh. 
Em 1975, Freitas do Amaral foi a um encontro conservador na Áustria e contou uma boutade. Que nas ruas de Lisboa os anarquistas empunhavam este cartaz: "Anarquia, sim, mas não tanta!" Mas ainda não tínhamos visto nada. Os americanos fora das Lajes e das equipas de básquete de Aveiro, Portugal fora do Festival da Eurovisão, a mudança da nossa moeda, não em euforia mas como condenação, o fim a prazo curto das reformas e até a Margarida Rebelo Pinto, palavras dela, a ter de fazer "um downsizing do meu lifestyle"... 
"Notícias, sim, mas não tantas!", parecem gemer os nossos jornais moribundos. 
«DN» de 25 Nov 12

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