Eram, uma vez, jornais, rádios e televisões…
Por Joaquim Letria
OS VELHOS modos de informar e comentar já não são
válidos. As ligações dos jornalistas aos políticos já não garantem nem o
presente nem o futuro. Os tradicionais pactos do poder com os cidadãos foram
rasgados e os novos políticos começam a só confiar nas redes sociais e nos
meios digitais.
É fácil enterrarmo-nos nas torrentes de informação, mas compreender
é mais difícil. Do velho jornalismo há uns que tentam sobreviver sem saber
como, há outros que ficaram parados e aturdidos, sem entenderem os
acontecimentos, e querendo acreditar que se não publicaram a notícia da sua
própria crise, é porque ela não existe.
Sem influência e com parcos rendimentos, os gestores dos meios da
comunicação social dizimam redacções e pedem campanhas de publicidade
institucional e contêm-se sem destapar o jornalismo de indignação.
Uma legião de jovens jornalistas vagueia à procura de colaborações
esporádicas, pois de postos de trabalho fixos é melhor nem falarmos. Os que
ainda são pagos com regularidade vêem os seus salários desvalorizar-se e, em
alguns casos, até desaparecer… lêem bem, desaparecer! Em Itália e Espanha,
associações sindicais de jornalistas chegaram ao extremo de lançarem uma
campanha subordinada ao tema “de borla não trabalhamos”!
Por outro lado, um jornalista que só encontra trabalho gratuito
pode ter mais facilidades para se dedicar ao jornalismo que mais lhe interesse,
do que acontecia até aqui. Os poucos custos dum meio digital deixam ao alcance
de qualquer a possibilidade de empreender novos projectos. O aparecimento de novos
meios em formato digital permite ter essa esperança. A de se fazer jornalismo
por vocação, como sucedia dantes aos velhos jornalistas e editores. Para ter
influência, para que um novo negócio sustentável ressurja, mas principalmente
para prestar um serviço à sociedade. Esse jornalismo de vocação acabou por
morrer ainda no tempo das vacas gordas. Colou-se tanto ao poder que acabou por
arder com ele. E isso foi tão evidente para tanta gente que hoje tem de se
explicar, tintin por tintin, por que razão o jornalismo faz muita falta à
democracia.
Etiquetas: JL
8 Comments:
Julgo que, recentemente, o «Público» dispensou uns quantos jornalistas.
O resultado (em termos de qualidade) notou-se logo. Eu, que o comprava 4 vezes por semana (de 2ª a 5ª-feira), deixei de o fazer. E tenho pena.
Realmente, anteontem comprei o Público. "Corri" à procura de Pulido Valente, Miguel Esteves Cardoso, Bento Domingues e Teresa de Sousa. Mas, vistos os seus textos, saltar para outros foi penoso, tantos eram os erros em tantas páginas...
Atirei-o para o lado.
Então e o «Expresso»?
Na maior parte dos casos, já sabemos o que cada um vai escrever.
O Miguel Sousa Tavares, p.ex., escreve sempre sobre os mesmos assuntos, semana após semana.
Outros, como o Daniel Oliveira, são 200% previsíveis...
Pois.
O Público também tinha uns cromos que despachou há algum tempo. E fez bem.
Eu interrogava-me sobre como era possível pagar a colunistas para eles escreverem o que escreviam...
Mas escreviam bem, pelo menos.
O Sousa Tavares, esse tinha no mínimo três áreas em que não conseguia ser objetivo, para além de que era irritantemente prolixo e tonitroante:
- na luta assanhada contra os professores (sem distinguir quaisquer deles, que eu desse conta...);
- na análise futeboleira;
- na sua defesa irrazoável do tabaco.
Há muito que o não leio.
Agora sou muito seletivo...
Nunca percebi como é que o MST tem mais espaço do que os directores do 'Expresso' todos juntos!
Mas o pior é que os temas que aborda são sempre os mesmos:
OTA-TGV-ampliação do aeroporto da Portela-tabaco-sindicatos-professores-TGV-autoestradas-aeroporto-Merkel (sempre com o "sra." atrás)-Jardim-tabaco outra vez-CP-impostos-Merkel outra vez-troyka (refere-se a 2 membros como "o careca e o etíope"!!)-reformas...
Sempre em círculo, como um realejo.
Agora, quando o leio, já é só "em diagonal".
Resposta de JL:
«Confesso aos meus prezados CMR e José Batista que só sei do que estão a falar por aquilo que dizem... há anos que não ouço nem leio esses autores.
Também me tornei selectivo,à medida que vamos tendo menos tempo à nossa frente...
Abcs.,jletria»
Caríssimos Carlos Medina Ribeiro e Joaquim Letria
Primeiro o Amigo Medina: Olhe, li o seu comentário imediatamente anterior e tive a sensação de estar a rever um "filme"... A maneira como se saturou dos escritos de MST coincide com o que me aconteceu a mim.
A seguir (e não em segundo...) o também Amigo (que eu gostava de ter e, afinal, tenho em...) Joaquim Letria: Espero que seja claro o motivo por que leio sempre com tanta satisfação e proveito o que escreve. E a razão por que (sem querer ser chato...) insisto em que não se "ausente" deste espaço.
Aos dois um grande abraço.
Resposta JL:
«Um abraço a merecer a mais sincera retribuição da minha parte!
Les bons esprits se rencontrent!
Obrigado.
Jletria»
Enviar um comentário
<< Home