2.12.12

O assaltante que não merece desprezo

Por Ferreira Fernandes  
UM CICLISTA só faz sentido fora do pelotão - de que vale penar (e pedalar custa sempre) se é para não se destacar? 
Como ciclista, Carlos Teixeira ousou o suficiente para ser o Rei da Montanha (Volta a Portugal, 1996). Aí, ainda andava em equipa (Recer-Boavista). Na sua outra encarnação, a atual, atacava sozinho. Leiam-se os dez capítulos da obra do recentemente falecido historiador britânico Eric Hobsbawm, Bandidos (Bandits, 1969), e em nenhum encaixa Carlos Teixeira. Hobsbawm fala de bandidos sociais, filhos de mundos que se transformam, preocupados com a sua imagem social ou brutos ávidos (cangaceiros, ladrões das montanhas, assaltantes de comboios...), mas sempre membros da palavra, bando, que os tornou bandidos. 
Na sexta-feira, Carlos Teixeira, 42 anos, ouviu a sentença num tribunal de Lisboa, tal como em dez meses assaltou 20 bancos - sozinho. 
O marxista Hobsbawm a chamar-lhe alguma coisa seria "stakhanovista", como aquele mineiro soviético, do tempo de Estaline, que partia toneladas de carvão com a sanha que o ex-ciclista limpava cofres (150 mil euros renderam os assaltos). Não só não tinha companheiros como nos assaltos mostrava uma falsa pistola: arriscou-se e não fez ninguém correr risco. Carlos Teixeira apanhou onze anos de prisão. Não é um herói que mereça canções como Robin dos Bosques. E não é um canalha que, com violência, roubou bancos de fora para dentro, nem dos que, com manhas, roubaram de dentro para fora. 
«DN» de 2 Dez 12

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