A nossa falta de jeito para o crime
SE BEM percebi, uma inspetora da PJ, tendo programado um crime de morte,
deixou o telemóvel em casa, para que as antenas não lhe seguissem o
percurso, e do Porto para Coimbra não foi pela A1, para as portagens não
a denunciarem. Tudo bem, serviu-se dos saberes profissionais. Depois,
meteu 13 balázios na avó do marido com uma 9mm que roubara a uma colega,
pistola de calibre das distribuídas aos inspetores da PJ, e deixou no
local do crime as cápsulas, de um lote que, seguido, foi dar à PJ-Porto.
Para mais, nem arrombou a porta da morta nem a casa ficou desfeita
simulando um roubo.
Enfim, tudo mal, a inspetora apontou para si o
crime.
A confirmar-se tudo isto, atazana-me esta dúvida: o que tramou a
inspetora foi ela conhecer truques que um bom polícia conhece ou ela foi
traída por mostrar tanta tolice que só podia ser de um polícia
português?
Digo isto porque a tolice à portuguesa começa a ser uma marca
do nosso ADN. Por isso saúdo as minhas duas colegas do Público que
acabaram o seu texto de ontem sobre o caso da inspetora com uma
autoironia soberba. Sobre os repórteres que dão de barato os bitaites de
vizinhos de crimes, escrevem elas dessas testemunhas: "Aos jornalistas
dizem que se quiserem que passem outra vez à noite, depois dos
telejornais. Nessa altura já saberão mais do caso."
O jornalismo
português, sobretudo a reportagem, precisa mais de profissionais assim,
que saibam desmontar a realidade do reality show.
«DN» de 29 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Devo dizer que li a notícia e que apreciei sobremaneira o comentário, irónico e certeiro, das jornalistas.
Enviar um comentário
<< Home