A crise pode ser boa oportunidade
APANHA-SE
com este Orçamento no lombo, espera-se em janeiro pelo encolhido recibo
de ordenado (quem ainda o tiver) e dá-nos inevitavelmente para o
queixume. É por isso que manchetes como a de ontem do Jornal de Notícias
são um bálsamo: "Manifestações safam negócio de autocarros." O texto
explica: no sector rodoviário, as empresas de aluguer ocasional de
autocarros são as únicas a sorrir com a crise. Esta leva a
manifestações, que vão até Lisboa protestar e os autocarros alugados
andam numa roda-viva... Sorte a delas, das empresas, mas a lição a tirar
da coisa é mais vasta. Um leitor na caixa de comentários do jornal
topou: "Enquanto uns choram, outros vendem lenços."
O Governo aperta, as
manifestações desatam-se e, upa!, os donos da camionagem faturam. É uma
forma de sair da crise, certamente melhor do que o marasmo. E há um
lado, digamos, dialético desta história que me encanta. As manifestações
são feitas para mostrar o lado perverso das políticas mas, ao mesmo
tempo, alugando autocarros, tiram do sufoco um sector económico. Vítor
Gaspar, graças ao empenho de Arménio Carlos, pode ficar na História como
o político que mais fez pelas empresas de aluguer dos autocarros. Não
se veja nisto nenhuma cumplicidade, que não há, mas tão só ironias da
vida. Quanto ao mais, aquela manchete tem razão em ser esperançosa. Há
improváveis nichos de mercado que a crise destapou: vender máquinas para
fazer furos nos cintos é outro.
«DN» de 28 Nov 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
há sempre alguém que fica a ganhar com a crise.
No entanto, se Armenio Carlos continua a fazer tantas manifestações, não vai haver dinheiro para essas viagens
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