Os maias, 'Os Maias' e o fim do Mundo
DIZ-SE dos tolos que quando se aponta a Lua eles olham para o dedo. Os maias
tinham a reação inversa. Ótimos astrónomos, enquanto apontavam para o
alinhamento dos planetas não viram chegar os espanhóis que deram cabo
deles. De que lhes serviu serem uma civilização superior? Pois esses
notórios incapazes de preverem o desastre próprio ganharam agora fama
por anunciarem o fim dos outros: um antigo calendário maia marcou o fim
do mundo para o próximo 21 de dezembro. Tolice acreditada por meio mundo
- a Internet pôs-se nervosa, anunciaram-se suicídios - a ponto de,
ontem, um cientista da NASA ter de desmentir. O choque de planetas, a
tempestade solar e outros apocalipses antes do Natal, tudo aldrabices.
Acredito, e aconselho a leitura não do fatídico calendário dos maias,
mas de Os Maias. No fim do romance de Eça, os amigos Carlos da Maia e
João da Ega dedicam-se a conversa dramática: "Não a vale a pena
viver...", diz um. O outro concorda. E ambos chegam à conclusão de a
única certeza ser o pó que nos espera. Porquê correr, pois, por alguma
coisa?... Aí, Carlos olha para o relógio e vê que estavam atrasados para
o jantar no Hotel Bragança. E deitam-se os dois a correr atrás da
carruagem que os levará ao "paio com ervilhas"...
Assim acaba Os Maias, e
é uma mensagem que merece mais Internet do que a outra, dos maias.
Leitor, quando lhe apontarem o fim do Mundo, a 21, olhe para o bacalhau e
a couve tronchuda, dias depois.
«DN» de 1 Dez 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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