A etiqueta dela tramou Passos
HÁ ANOS, um político de capachinho quis ser candidato à presidência. Eu
avisei: era perigoso. Numa visita de Estado, o País ficaria em transe
quando o nosso Presidente de capachinho assomasse à escada do avião.
Cai? Não cai? Voa?...
Hoje, volto às interdições: uma mulher-jornalista
não deve poder entrevistar sem decidir que na entrevista é mais
jornalista do que mulher. Vejam Judite Sousa, na semana passada. Estavam
ambos sentados, ela e José Alberto de Carvalho, à espera do convidado
(é, os jornalistas, entrevistando, são sempre eles quem convida), quando
entrou Passos Coelho. José Alberto levantou-se para cumprimentar, mas
Judite continuou sentada (há foto). A etiqueta aplaudiria, as senhoras
nunca se levantam. Mas, lá está, Judite, ali, não devia ser a senhora
que recebia, mas a jornalista.
Eu vi logo nos olhos de Passos Coelho que
ele ficou baralhado. Assim, quando Judite perguntou: "Poderemos ter de
pagar pela escola pública...?", o primeiro-ministro ainda estava
bloqueado. Era a mulher ou a jornalista que perguntava? Daí a resposta
errada: sim, vai-se taxar o secundário...
Revi o vídeo, a resposta toda -
entre "Nós temos..." e "assegurada pelo Estado" - é clara (e taxativa,
sim!).
E lá tivemos uma semana de quiproquós e desmentidos (ontem, mais
um, vindo do Mindelo). Citando Brecht e Paula Bobone, eu diria que a
culpa não foi da asneira fluvial do primeiro-ministro, mas das margens
de boas maneiras que o comprimiram.
«DN» de 3 Dez 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
2 Comments:
O saudoso Carlos Pinto Coelho afinava quando ouvia, na rádio, o «Vamos 'conferir' o trânsito». Tinha toda a razão, e lembro-me sempre disso quando ouço a Judite de Sousa dizer a M.R.Sousa (como ontem voltou a fazer) «Vamos 'conferir' a actualidade política»...
Mas a evolução linguística nos apresentadores da rtp1 não é impossível.
Ainda não há muitos anos, José Rodrigues dos Santos, agora um escritor de sucesso, quando queria relacionar uma coisa com outra costumava dizer:
- "isto tem a haver..."
Sei de quem muito o tentou corrigir. Creio que já não diz aquilo.
Assim mesmo, em questões de língua portuguesa, televisões, rádio e jornais, mesmo os ditos de "referência", andam pelas ruas da amargura.
Não sei se, muitos dos jornalistas, se terão formado à moda de Sócrates ou à moda de M. Relvas.
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