Maus a investigar, bons a enlamear
Por Ferreira Fernandes
FRANCISCO Canas tinha um esquema de dinheiro para Suíça, o que levou a
Polícia Judiciária a investigar. Traduzido: a Judite pôs debaixo d'olho o
Zé das Medalhas no caso Monte Branco.
À polícia dá-se a alcunha da
bíblica Judite, o comerciante da Baixa lisboeta passa a ser Zé das
Medalhas e a Helvécia esconde-se atrás da sua célebre montanha. E porquê
esses biombos? Porque um bom caso policial precisa sempre de mistérios
que apimentem a coisa.
Agora, sigamos um investigador português dando
com o livro escondido do Zé das Medalhas, onde este apontava os seus
clientes e verbas. Um livro destes seria lido por qualquer investigador
como as mensagens da Rádio Londres eram ouvidas pelos nazis durante a II
Guerra Mundial. Se a mensagem era "les sanglots longs des violons...",
eles não diziam: "Olha, agora deu-lhes para a poesia de Verlaine!"
Desconfiavam: "Aqui há gato...", mesmo não sabendo se persa ou siamês.
Da mesma forma, um investigador lendo o nome "Medina Carreira" no livro
do Zé das Medalhas desconfiaria. Tentava traduzir aquele código. Um
investigador, disse eu. Em geral. Mas se o investigador for português,
aí já marra a direito: "Medina Carreira? Olha, o gajo que tem a mania de
dar lições." E ia direito a buscas na casa e escritório do "indiciado".
Não deu em nada, claro, era mesmo código. Porém se os investigadores
portugueses marram mal, pegam de cernelha bem: os jornais ficaram logo a
saber que houve buscas...
«DN» de 9 Dez 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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