Partir pedra
Por Joaquim Letria
MUITOS de nós, Portugueses, adoram partir pedra. Quer esta expressão dizer que adoram falar por falar, não resistem a discutir o sexo dos anjos, pôr grande calor e manifestar grande empenho em mandarem vir opiniões sobre assuntos de lana caprina, desde que não tenham de pensar e discutir o que verdadeiramente conta e realmente importa.
Uma coisa é fazer isto numa sala de bilhar, numa cervejaria, no café, outra coisa muito diferente é fazer isso mesmo na rádio e na televisão. A última vez que ouvi rádio, era isso mesmo que acontecia, mas foi há tanto tempo e não encontrando ninguém que ainda ouça rádio, sou levado a pensar que essa tendência se mantém, a fazer fé nas discussões, conversas e entrevistas a avençados que comparecem nas televisões para gastar tempos e ocupar espaços.
Diz o nosso povo que contra factos não há argumentos. Mas acabamos por distorcer, discutir, pôr em causa os factos e fazer vir ao de cima os argumentos da morrinhanha. Deve ser por respeitar esta tendência que o governo, para dizer qualquer coisa que ninguém percebe, precisa de falar, pelo menos, três vezes. É como aquela de que não somos como os gregos, não podemos parecer-nos com os gregos, afinal já somos como os gregos! Fazemos com a compreensão o que os surdos fazem com o ouvido: vais à caça? Não, vou à caça! Ah! julgava que ias à caça!
O que parece importante é não falarmos naquilo que é importante para nós, ou pode ser decisivo para o país. Sabem onde e quando se nota mais isto? Quando se compra e lê jornais estrangeiros. Experimentem! Parece que desembarcámos em Marte e até gostamos das histórias que por lá se contam!
Etiquetas: JL
1 Comments:
Certeiro, este texto.
Realmente, somos um povo de palradores sobre muitos assuntos, acalorada e entusiasticamente, para fugir àquilo que devíamos discutir depois de pensar um bocadinho.
Rádio ainda oiço alguma coisa, no carro. Havia um programa ao sábado de manhã de que gostava e há tempos não oiço chamado "lugar ao sul". Também oiço com interesse bocados do Júlio Machado Vaz. E gosto da abertura de um programa, também ao fim de semana, de manhã, ao sábado, creio, chamado "hotel babilónia", de Pedro Rolo Duarte e João Gobern. Ao João Gobern ainda o oiço à semana, todos os dias, por volta das oito menos dez. Isto tudo na "antena 1". Quanto preciso "evadir-me" e estou mais sensível a cabotinices, sintonizo a antena 3. Mas a rádio já não é o que foi. Um dia fiquei furioso, porque, ao ligar, ouvi um relatador de bola dizer que o Guimarães "infringiu" uma derrota ao Benfica: dei uma gargalhada primeiro, mas fiquei furioso quando ele repetiu. E desliguei. Há outras coisas que não nos põem furiosos, mas são impossíveis de ouvir...
Enviar um comentário
<< Home