20.12.12

«Dito & Feito»

Por José António Lima
DURÃO Barroso deu há dias, numa entrevista, a mais inverosímil das respostas sobre o seu interesse numa corrida a Belém: «Não sei exactamente qual é a data» das próximas presidenciais em Portugal...
Uma afirmação tão inacreditável quanto denunciadora, pelo absurdo da negação, da importância que dá ao tema e da atrapalhação que lhe causa abordá-lo.
Como há muito se percebeu – e o próprio tem deixado perceber nos últimos anos – Barroso é um potencial candidato presidencial. E o seu segundo mandato em Bruxelas acaba no final de 2014 – um ano antes da eleição para Belém, o timing ideal para preparar e lançar uma campanha.
Barroso tem dois factores de peso a favorecerem a sua candidatura. Será o português que desempenhou o mais importante cargo internacional, de presidente da Comissão Europeia, o que lhe confere um estatuto político de primeira grandeza. E as presidenciais ocorrerão logo a seguir às legislativas de 2015, cujo desenlace mais provável – após estes desgastantes anos de crise e de troika – será uma mudança de ciclo político, com a vitória do PS – o que beneficiará, por contrapeso, a candidatura do centro-direita a Belém.
Mas Barroso tem, por outro lado, dois obstáculos de monta às suas ambições presidenciais. Os portugueses não esqueceram que em 2004 abandonou o país em situação crítica e deixou o Governo nas mãos de Santana Lopes – e muitos não lhe perdoaram. Acresce que grande parte do eleitorado o vê hoje como um dos responsáveis da troika e o associa ao impopular programa de austeridade imposto ao país. Há pouco mais de um mês, foi mesmo vaiado à saída de um teatro em Almada.
Não é, pois, por acaso que Barroso se empenha em garantir que a Comissão Europeia a que preside «de forma alguma tem tido uma posição de maior exigência a Portugal do que as outras instâncias [FMI e BCE]». Ou que, ao contrário de Guterres, não faz mea culpa sobre a crise do país: «Não foi o meu Governo que criou esta situação muitíssimo grave». Regista-se.
Já agora, Barroso pode fixar a data das presidênciais: serão em Janeiro de 2016. É uma informação que lhe poderá ser útil. 
«SOL» de 14 Dez 12

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2 Comments:

Blogger José Batista said...

Sim, muitas pessoas não esquecem a fuga de Barroso para a Europa em 2004. Com a colaboração de Jorge Sampaio. Ficámos então com a nódoa do Santana nos braços. E o percurso descendente do país, que já vinha de tempos anteriores - lembremo-nos da construção dos estádios de futebol na era cavaquista que agora pagamos com língua de palmo e não servem para nada - acentuou-se e agravou-se continuamente, até darmos com os burrinhos na água. Barroso é tão responsável como os mais responsáveis. E o cargo que ocupou em Bruxelas aproveitou-lhe a ele, que não ao país nem aos portugueses.
Ele que não vá depressa demais. No campo dele há outros tão gulosos e atentos como ele, caso de Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo.
E à esquerda não faltarão também (bons) candidatos.

Eu cá já tenho um: Manuel Carvalho da Silva. Em minha opinião, os restantes, tenham os rótulos que tiverem, se forem os previsíveis, valem o mesmo por serem (praticamente) iguais.

20 de dezembro de 2012 às 20:07  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pois... Eu, que não morro de amores por Cavaco Silva, sorrio sempre que vejo a esquerda atirar-se a ele.
Sucede que Cavaco é, por paradoxal que pareça, precisamente o reflexo da esquerda:
O simples facto de ele estar onde está é a prova-provada que, apesar de fracote, a esquerda é ainda mais fraca - pelo menos, não consegue apresentar "coisa" mais credível do que as 'amostras' de candidatos que se têm visto.

20 de dezembro de 2012 às 20:18  

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