«Dito & Feito»
Por José António Lima
DURÃO Barroso deu há dias, numa entrevista, a mais inverosímil das
respostas sobre o seu interesse numa corrida a Belém: «Não sei
exactamente qual é a data» das próximas presidenciais em Portugal...
Uma
afirmação tão inacreditável quanto denunciadora, pelo absurdo da
negação, da importância que dá ao tema e da atrapalhação que lhe causa
abordá-lo.
Como há muito se percebeu – e o próprio tem deixado
perceber nos últimos anos – Barroso é um potencial candidato
presidencial. E o seu segundo mandato em Bruxelas acaba no final de 2014
– um ano antes da eleição para Belém, o timing ideal para preparar e
lançar uma campanha.
Barroso tem dois factores de peso a
favorecerem a sua candidatura. Será o português que desempenhou o mais
importante cargo internacional, de presidente da Comissão Europeia, o
que lhe confere um estatuto político de primeira grandeza. E as
presidenciais ocorrerão logo a seguir às legislativas de 2015, cujo
desenlace mais provável – após estes desgastantes anos de crise e de
troika – será uma mudança de ciclo político, com a vitória do PS – o que
beneficiará, por contrapeso, a candidatura do centro-direita a Belém.
Mas
Barroso tem, por outro lado, dois obstáculos de monta às suas ambições
presidenciais. Os portugueses não esqueceram que em 2004 abandonou o
país em situação crítica e deixou o Governo nas mãos de Santana Lopes – e
muitos não lhe perdoaram. Acresce que grande parte do eleitorado o vê
hoje como um dos responsáveis da troika e o associa ao impopular
programa de austeridade imposto ao país. Há pouco mais de um mês, foi
mesmo vaiado à saída de um teatro em Almada.
Não é, pois, por
acaso que Barroso se empenha em garantir que a Comissão Europeia a que
preside «de forma alguma tem tido uma posição de maior exigência a
Portugal do que as outras instâncias [FMI e BCE]». Ou que, ao contrário
de Guterres, não faz mea culpa sobre a crise do país: «Não foi o meu
Governo que criou esta situação muitíssimo grave». Regista-se.
Já agora, Barroso pode fixar a data das presidênciais: serão em Janeiro de 2016. É uma informação que lhe poderá ser útil.
«SOL» de 14 Dez 12 Etiquetas: autor convidado, JAL
2 Comments:
Sim, muitas pessoas não esquecem a fuga de Barroso para a Europa em 2004. Com a colaboração de Jorge Sampaio. Ficámos então com a nódoa do Santana nos braços. E o percurso descendente do país, que já vinha de tempos anteriores - lembremo-nos da construção dos estádios de futebol na era cavaquista que agora pagamos com língua de palmo e não servem para nada - acentuou-se e agravou-se continuamente, até darmos com os burrinhos na água. Barroso é tão responsável como os mais responsáveis. E o cargo que ocupou em Bruxelas aproveitou-lhe a ele, que não ao país nem aos portugueses.
Ele que não vá depressa demais. No campo dele há outros tão gulosos e atentos como ele, caso de Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo.
E à esquerda não faltarão também (bons) candidatos.
Eu cá já tenho um: Manuel Carvalho da Silva. Em minha opinião, os restantes, tenham os rótulos que tiverem, se forem os previsíveis, valem o mesmo por serem (praticamente) iguais.
Pois... Eu, que não morro de amores por Cavaco Silva, sorrio sempre que vejo a esquerda atirar-se a ele.
Sucede que Cavaco é, por paradoxal que pareça, precisamente o reflexo da esquerda:
O simples facto de ele estar onde está é a prova-provada que, apesar de fracote, a esquerda é ainda mais fraca - pelo menos, não consegue apresentar "coisa" mais credível do que as 'amostras' de candidatos que se têm visto.
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