A sina do mexilhão
Por Joaquim Letria
ÁGUA MOLE em pedra dura, tanto dá até que fura!
Este velho ditado popular está a ser muito bem aplicado por alguns partidos e
pelas suas ramificações no Poder Local, de modo a garantirem um rendimento
exponencial escandaloso, por via indirecta, e ainda a satisfação de boa parte
da clientela que é dominante e muito rendosa na penumbra dos financiamentos
partidários.
Também aqui, apesar de se tratar de água doce e levar cloro e
outros desinfectantes, quem se prejudica é o mexilhão…
Muitas autarquias privatizaram o negócio da distribuição de água
com resultados catastróficos para as populações. Na maioria destes casos,
verificou-se que os acordos de privatização provocaram aumentos escandalosos
nos preços pagos pelos consumidores.
Além do mais, e tal como em certos casos das PPP nas vias
rodoviárias, ficaram também garantidas rendas fixas e décadas de grandes
margens de lucros para os privados, ficando os prejuízos por conta dos
orçamentos municipais.
Na existência dos monopólios públicos já se corriam grandes riscos,
como muitos de nós podem, infelizmente, comprovar. No caso de monopólios privados,
só uma regulação e fiscalização de grande rigor e independência poderiam
garantir um preço justo para um serviço de qualidade, premissas muito raras,
pouco prováveis e só excepcionalmente praticadas no nosso País.
Acresce, ainda, que as concessões municipais foram e serão
destinadas àqueles que dominam todos os negócios públicos locais, especialmente
os construtores e os promotores imobiliários. Uma dúvida pouco consistente mas
que perdura, correndo o risco de se transformar em certeza, é o aumento dos
preços e a pior qualidade de serviços para as populações e consumidores e a
repercussão desta realidade em outros sectores, vitimizados pelo fracasso que
se abaterá com maior violência sobre as
finanças dos municípios.
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