O crime de Armstrong
Por Ferreira Fernandes
DEPOIS de dez anos a pedalar pela inocência, Lance Armstrong largou o
selim, sentou-se num sofá e confessou o que sabíamos: é um mentiroso.
Valha-nos como consolação que aquele que venceu centenas de grandes
atletas secos e musculados acabou em lágrimas nas duas etapas com a
gordinha Oprah Winfrey. A frase mais citada da famigerada entrevista:
"Dopei-me porque queria ganhar a qualquer preço." Que tomava EPO
suspeitou-se, provou-se e, desde esta semana, confessou-se. Agora que
fosse a qualquer preço... Só em prémios pelas vitórias em sete Tours de
France ganhou três milhões de euros, o que levou a uma bola de neve de
100 milhões de euros amassados numa carreira de mentira. Daí que a
sessão de psicoterapia entre Armstrong e Oprah não deva iludir.
Nas
estatísticas oficiais da Volta à França, o quadro de honra ocupa-se com
os vencedores: o 1.º da classificação geral, o 1.º do prémio da montanha
e o 1.º da classificação por pontos. Os outros, são os outros. Não reza
a história. Sendo que nesse quadro de honra, de facto, o vencedor é só
um, o camisola amarela. Ora de 1999 a 2005, esse quadro de honra do Tour
é omisso sobre o camisola amarela. Foi varrido, não pelo carro
vassoura, mas pela justiça que provou que Lance Armstrong fizera batota.
Sete anos em que talvez tenha havido um campeão que quis ganhar mas não
"a qualquer preço", ganhou, mas chegou só a segundo de Armstrong. E,
graças ao mentiroso, deixou de existir.
«DN» de 20 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home