19.1.13

O Zarolho e as zarolhas

Por Ferreira Fernandes
TUDO se passa no deserto - metáfora para o lugar reservado ao debate. 
Atacou-se, antes, os mausoléus centenários de Tombuctu e Gao, e, agora, uma moderna refinaria - porque a espada dos justos é intemporal. A refinaria é de gás - explosiva como a ira dos jihadistas. E da refinaria de Amenas partem pipelines para a Europa - como, em breve, a guerra santa... Um dia talvez alguém escreva uma obra curta e funda para atacar estas alegorias tolas, colocando os protagonistas no género certo, fábula, como George Orwell fez com outras tolices em O Triunfo dos Porcos. Entretanto, o noticiário diz-nos que o chefe do ataque a Amenas, Mokhtar Belmokhtar, dado como morto no assalto, afinal comandara de longe e não estava lá. O grupo dele chama-se "Os Signatários pelo Sangue" porque uma coisa é gostar de cabidela e outra candidatar-se a galinha. O guerrilheiro Belmokhtar é conhecido por Zarolho (um estilhaço cegou-o a metade), e é de Ghardaia, a joia do Sara argelino. Nessa cidadezinha, as mulheres usam um niqab ainda mais cruel que o comum. Este, em geral, só deixa de livre, nas mulheres, os olhos. Em Ghardaia, só um olho. As vestes brancas só se abrem num orifício, que serve ora o olho esquerdo, ora o direito - para não cegar o sempre tapado e é essa a única liberdade da mulher. Belmokhtar é Zarolho de cognome, as mulheres de Ghardaia são zarolhas porque tem de ser. 
Pode faltar muita coisa a estes combatentes de Deus. Metáforas, não. 
«DN» de 19 Jan 13

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