O Zarolho e as zarolhas
Por Ferreira Fernandes
TUDO
se passa no deserto - metáfora para o lugar reservado ao debate.
Atacou-se, antes, os mausoléus centenários de Tombuctu e Gao, e, agora,
uma moderna refinaria - porque a espada dos justos é intemporal. A
refinaria é de gás - explosiva como a ira dos jihadistas. E da refinaria
de Amenas partem pipelines para a Europa - como, em breve, a guerra
santa... Um dia talvez alguém escreva uma obra curta e funda para atacar
estas alegorias tolas, colocando os protagonistas no género certo,
fábula, como George Orwell fez com outras tolices em O Triunfo dos
Porcos. Entretanto, o noticiário diz-nos que o chefe do ataque a Amenas,
Mokhtar Belmokhtar, dado como morto no assalto, afinal comandara de
longe e não estava lá. O grupo dele chama-se "Os Signatários pelo
Sangue" porque uma coisa é gostar de cabidela e outra candidatar-se a
galinha. O guerrilheiro Belmokhtar é conhecido por Zarolho (um estilhaço
cegou-o a metade), e é de Ghardaia, a joia do Sara argelino. Nessa
cidadezinha, as mulheres usam um niqab ainda mais cruel que o comum.
Este, em geral, só deixa de livre, nas mulheres, os olhos. Em Ghardaia,
só um olho. As vestes brancas só se abrem num orifício, que serve ora o
olho esquerdo, ora o direito - para não cegar o sempre tapado e é essa a
única liberdade da mulher. Belmokhtar é Zarolho de cognome, as mulheres
de Ghardaia são zarolhas porque tem de ser.
Pode faltar muita coisa a
estes combatentes de Deus. Metáforas, não.
«DN» de 19 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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