Um político que é um espetáculo
Por Ferreira Fernandes
JÁ ME PERDI, não sei qual o ponto da situação de Silvio Berlusconi. Em que
tribunal passa e em que noivado vai. Pouco me importam os cenários, mas
ele faz-me falta. É como Totò, não me lembro de um só nome de filme,
mas sim dos seus esgares, que me levavam sempre a comprar o bilhete.
Um
dia almocei em Roma com Mario Monicelli. Na verdade, ele almoçava,
velhinho, a duas mesas de mim. Estive vai não vai para lhe dizer a honra
de estar tão perto de um dos realizadores do Boccaccio 70. Um
sobressalto de honestidade manteve-me sentado, porque o que eu queria
era perguntar-lhe por Totò e isso talvez ofendesse o grande realizador.
Mas se um dia almoçar perto de Angela Merkel, pergunto-lhe (ela não é
velhinha): assustou-se quando Berlusconi, numa cimeira, se escondeu
atrás de um lampião e lhe saltou em cima, "cucu, estou aqui!"? Talvez já
não faça o mesmo com Isabel II, ela é velhinha, e que se zangou por
causa do grito berlusconiano "Obamaaa!", numa reunião do G20. Já tinha
saudades deste bufão.
Há dias, pelo YouTube, o sempre jovem e com mais
cabelo "il Cavaliere" voltou em força. Num programa de TV, Silvio, ao
sentar-se onde antes estivera um adversário, espanejou a cadeira, tirou
um lenço e puxou lustro ao assento. Totò puro. Dias depois, noutro
programa, bateu com uma folha de papel na cabeça do entrevistador.
Um
político que diz "eu sei que vocês sabem que eu sou um bufão" pode não
ser dos melhores. Mas não é dos piores.
«DN» de 18 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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