4.1.13

É Verissimo e bem ressuscitado

Por Ferreira Fernandes 
E DIZIAM mal de 2013! Mas logo ao terceiro dia o otimismo ressuscitou. Como, ontem, Luis Fernando Verissimo. Há semanas davam-no hospitalizado, com aquele tom de voz que os jornais põem para dizer não dizendo: este já está como há-de ir... Eram manifestamente exageradas as notícias da maldade de 2013: ontem, LFV voltou à sua crónica n'O Globo, com a ironia de sempre até nas desculpas: "E eu não disse para ninguém que deveria estar morto." Fica de borla lê-lo no jornal do Rio (compute, leitor, compute). Ninguém na língua portuguesa faz diálogos como LFV. Sei que há quem frequente os melhores diálogos em inglês (Sinclair Lewis, John Steinbeck...) e em curdo (escapam-me os nomes), mas é bom para os da nossa língua comum haver um LFV a criar enredos só com conversa de um casal. Outra bofetada nos pessimistas: em 2013, o português continua pelo mundo fora (coitadinhos dos finlandeses, fazem um Nokia para palavras e não têm quase nenhuma para meter nele). 
Voltando ao LFV, um dia ele fez uma crónica inventado palavras náuticas (traquineta, vela bimbão, vento vizeu...), só para mostrar as patranhas do linguajar dos economistas. De outra vez, ele escreveu sobre os quase afogados que diziam ao chegar à praia que foram salvos por um golfinho. LFV preveniu-nos: e a versão dos afogados? Se calhar foram comidos pelos golfinhos e disso ninguém fala (quem ouve afogados?). 
Rebem-vindo, Verissimo, língua boa, ironia salvadora, dúvida constante.  
«DN» de 4 Jan 13

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