2.1.13

Isto em caso de ser manchete inocente

Por Ferreira Fernandes
AINDA um voto: que os jornais façam mais política. Foi o que mais faltou recentemente a um jornal: capacidade de fazer política pesando os prós e contras. Manchete do Expresso, em novembro: "Procuradoria abre inquérito a altos governantes angolanos." Sim, a Procuradoria abrira inquérito a altos governantes angolanos e o jornalismo existe para dar notícias. Portanto, que se desse aquela. Mas o jornalismo é também escolha, hierarquização do mais importante. E aquela notícia nunca mereceria ser manchete, mas só uma breve: era um facto burocrático da nossa Justiça, obrigada a receber uma queixa sem possibilidade, porque a nossa Justiça está impedida de investigar em Angola, de outro fim senão arquivamento. E vai ser arquivada. Entretanto, a manchete serviu de facto em si mesma, para lá do facto que noticiava. Entre tantas coisas irrelevantes que vão para primeira página, aquela podia ser mais uma. Mas não era, aquela manchete do Expresso não foi gratuita. Pelo seu relevo inusitado causou um conflito com um país com o qual, não só pelos nossos interesses financeiros de momento mas por razões históricas, devemos aprofundar laços. Em nome da informação, podemos esquecer outros interesses, e até os nacionais - mas, nesse caso, conviria que a informação valha a pena. Com informações da tanga, prejudicarmos tanto é estúpido. Fazendo política, pesando os prós e contras, aquela manchete faria bom jornalismo: deixaria de existir. 
«DN» de 2 Jan 13

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