1.1.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
O SIMPÁTICO bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins, veio esta semana alertar as consciências dos católicos para o facto de «os governantes não estarem à altura do momento».
Parece-lhe que «os ministros não dominam os conteúdos da governação». E propõe, por isso, uma ideia estrambólica mas cheia de boa vontade: «Um ministro – alvitra – antes de ser nomeado, antes de aceitar esse encargo de governar, havia de ir a uma junta de especialistas independentes que avaliasse as suas capacidades». Deve ser assim que são nomeados os bispos, presume-se. E D. Manuel Martins remata as suas considerações com uma ideia pouco original mas não menos surpreendente: «Diria que se podia fazer já uma remodelação» do Governo. Por determinação e inspiração divina, supõe-se.
Recorde-se que também outros bispos, nos últimos meses, decidiram intervir abertamente no terreno da análise e da luta política. Como o incontrolável bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, que não se inibiu de comparar os governantes dos últimos Executivos: «Os anteriores [os de Sócrates], que foram tão atacados, eram uns anjos ao pé destes diabinhos negros que acabam de aparecer [os de Passos Coelho]». Ou o mais moderado bispo de Braga, D. Jorge Ortiga, que não resistiu a generalizações abusivas sobre a classe política: «Para eles [os políticos], muitas vezes e quase sempre, vale apenas o bem-estar pessoal ou, quando muito, do seu grupo ou partido». Nem mais.
É um caminho perigoso este que vêm trilhando alguns dos mais conhecidos bispos portugueses – o de, ao sentirem o poder político fragilizado pelos efeitos da crise, acharem que se abre espaço à sua intervenção pública em terrenos dos quais devem estar afastados e que deveriam evitar.
Dos responsáveis religiosos espera-se preocupação pelos mais fracos e pela solidariedade social, não opiniões sobre política partidária, pura e dura, aplaudindo, por exemplo, os manifestos de Mário Soares ou propondo remodelações do Governo – como acaba de fazer D. Manuel Martins. Com uma entrevista que, no mínimo, denota uma evidente falta de espírito natalício. 
«SOL» de 28 Dez 12

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Quando se diz alguma coisa, diz-se num contexto específico.
Em minha opinião, demasiado perigoso era não termos vozes como a de D. Manuel Martins ou a do moderado D. Jorge Ortiga.
Já dispensava algumas entradas de leão algo tendenciosas de D. Januário Torgal Ferreira, mas apenas por serem tendenciosas e não, propriamente, por serem falsas...
Mário Soares também podia moderar-se um bocadinho, por aquelas mesmas razões, acrescidas pelo que parece ser a sua falta de paciência para a ausência de nervo da liderança socialista.
E o Natal é, no mínimo, tão bom como qualquer outra altura para dizer as verdades e ficar do lado dos mais frágeis.
Sinto-me grato a todos quantos optam por essa via, sejam quem forem. A política é demasiado importante para a deixarmos (apenas) ao cuidado dos politicões...

1 de janeiro de 2013 às 19:13  

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