30.12.12

Detenham esta catástrofe

Por Rui Tavares
A TROIKA, já se percebeu, é um mero pretexto. Pedro Passos Coelho não se sente preso pelo memorando nem limitado pela Constituição, perante a qual desenvolveu uma estranha técnica: ele diz, propõe ou avança e, se for contrário à Constituição, alguém lho há-de dizer. Ler a lei fundamental propriamente dita, ou pedir a alguém que lha leia antes de abrir a boca, dá demasiado trabalho. E não faz parte do seu modus operandi. A ignorância não é um problema para Pedro Passos Coelho. Ele não sabe, logo não existe.
E assim nos encontramos à beira de um novo ano para que os portugueses olham já como se fosse um precipício. Janeiro vai ser o início da rampa; a partir daí, é sempre a cair. Os primeiros recibos dos vencimentos com os respetivos cortes. O brutal aumento de impostos. A amputação de serviços públicos. As privatizações ao desbarato. E os números da execução orçamental, periodicamente, a não baterem certo.
Também isto não deterá Pedro Passos Coelho porque, no meio dos escombros, ele tem um plano.
Mais ninguém acredita no plano de Passos Coelho. Alguns, cada vez menos, dão o benefício da dúvida por causa da dívida, cada vez mais desconfortáveis por ver que ela não diminui. Todos os outros, na esquerda, no centro e na direita, assistem atónitos a esta progressão de desastres: a TAP e a RTP vendidas ao pior preço e aos piores compradores, os despedimentos a saldo, a escola e a saúde prontas a serem ejetadas das funções do estado. Dentro em pouco, isto será irreversível. Nada disto detém Passos Coelho.
O julgamento da posteridade não atrapalha Pedro Passos Coelho porque ele não tem consciência da gravidade do que faz e, se o tem, não parece importar-se com isso. Mas a posteridade não julgará apenas Pedro Passos Coelho. Julgará todos os que, tendo consciência do que se está a passar, não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para deter esta catástrofe.
A responsabilidade dos partidos de oposição, em particular, é muito séria. Sabemos que eles não governam, sabemos que eles nem sequer concordam. Mas não precisam de governar nem concordar para fazerem três coisas simples que, por si só, seriam uma formidável barreira à progressão desta catástrofe.

Primeira: falarem, sem precondições. Basta de pretextos tolos. Façam reuniões, mesmo discordando, e digam-nos em que concordam. Por pouco que seja, pode ser essencial.
Segunda: ponham limites a este governo. Enunciem claramente as linhas vermelhas que vos levarão a abrir uma crise política, e ir ao Presidente da República exigir-lhe ação.
Terceira: abram-se aos cidadãos e aos vossos eleitores, em particular ao nível local, e deem-lhes liberdade para discutir alternativas concretas a esta governação.
Precisaríamos de muito mais do que isto. Mas isto é o mínimo que se pode exigir. O governo perceberá que a oposição sai do seu marasmo e começa a impor limites e regras, e a preparar-se para o substituir. Só isso pode deter esta catástrofe. Façam-no, já.
«Público» de 17 Dez 12

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2 Comments:

Blogger Táxi Pluvioso said...

O país faliu, e ao contrário das outras duas falências anteriores, já não é um país, é uma zona na Europa, e como tal tem que estar de mão estendida para lhe lhe mandem uns cobres, veremos se é este ano que Portugal é obrigado a sair do euro, porque 2014 será ainda pior que 2013.

Apesar do napalm fiscal desejo um FELIZ ANO NOVO

31 de dezembro de 2012 às 06:36  
Blogger José Batista said...

O problema é que foi a miséria de oposição que (agora) temos que ajudou a conduzir o país à miséria que vivemos. Uns por terem sido protagonistas diretos, outros por andarem demasiado ocupados com "batalhas civilizacionais" indiferentes ao facto de estarmos a resvalar para o abismo. Que não anteciparam, não viam ou não queriam ver...
E, claro, agora temos um (des)governo que é uma miséria.

Salva-se a ideia de que os partidos se abram aos eleitores. O que é coisa pouca. O sistema político é que tem que se abrir aos cidadãos, sem ficar refém da "rapaziada" partidária. E daqueles (muitos) monos que se sentam na assembleia da república.
Uns e outros, com grande culpa nossa, dos cidadãos comuns, trouxeram-nos até aqui.

Essa é que é essa. Arranjámo-la bonita.

31 de dezembro de 2012 às 08:48  

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