Então, esse 2018 demora muito?
Por Ferreira Fernandes
EM FINS de 1997, no aproximar de um aniversário redondo, o cronista
brasileiro Joaquim Ferreira dos Santos publicou "Feliz 1958 - O ano que
não devia terminar". Um livro cheio de saudades. Em 1958, Oscar Niemeyer
traçava Brasília a mando de um presidente sorridente, Juscelino
Kubitschek. Nesse ano o Brasil lançou o seu primeiro automóvel, o DKW-Vemag, e foi pela primeira vez campeão mundial de futebol (e com Pelé e Garrincha). João Gilberto com Chega de saudade abria as portas à bossa-nova e Jorge Amado lançava Gabriela, Cravo e Canela.
No teatro, Nelson Rodrigues escandalizava, nos jornais, os cronistas
chamavam-se Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Porto,
Millôr Fernandes... Este dizia: "Nostalgia é querer voltar para um lugar
que nunca existiu." Está bem, está bem, conversa de quem tem a barriga
cheia.
Chega de saudade, é???! Quero ver se, daqui a 40 anos, algum
português vai lembrar 2012 como o ano que nunca devia ter terminado... A
haver evocação, será crítica: como é que os políticos de então (os de
hoje), aproveitando a boleia da supressão de algumas datas (5 de
Outubro, 1.º de Dezembro...), não decretaram também a supressão de
alguns anos? Com a mão na massa de eliminar calendário, faziam-nos
passar diretamente de 2012 para 2018 - que é o ano, segundo as últimas
promessas, em que isto vai andar melhorzinho. Dava um bom livro: "Feliz
2018 - O ano que não há meio de chegar."
«DN» de 28 Dez 12 Etiquetas: autor convidado, F.F
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