Como eu me safei do aldrabão
Por Ferreira Fernandes
OS AÇULADOS que se atiram aos jornalistas por causa do aldrabão que se dizia da ONU encontram em mim um aliado: sim, o nosso jornalismo é, com exceções, uma bosta. Mas na sanha de morder, os açulados tresleram a causa da sua indignação. A Imprensa é bosta porque tendo aparecido alguém a dizer que a ONU se organizara para combater a política económica portuguesa, os jornalistas não se dedicaram ao essencial: podia a ONU fazer isso? Indo por aí, os jornalistas chegariam a um facto: a ONU não tinha Observatório nenhum, nem nenhum português a dirigi-lo para tentar emendar os erros da Europa do Sul. Mas não se foi por aí porque aos jornais, sobre Nova Iorque, só lhes interessava o julgamento de um tal Renato de saca-rolhas fácil. Os únicos jornalistas que se dedicaram ao hipotético Observatório onusino foram os que podiam fazê-lo a custo quase zero: comentando ou entrevistando. E esse jornalismo possível até cumpriu. Tendo aparecido há semanas um tipo com credenciais aceites pela sociedade, em conferências, debates e comissões (tudo sério), e parecendo interessante o que dizia, ouviram-no.
Se calhar, os meus colegas foram ingénuos, não tomaram a sociedade portuguesa pela bosta que ela é (com exceções). O que vem dela, como do nosso jornalismo, é de desconfiar. Foi assim que me safei. Não comentei o sujeito, não porque o supusesse aldrabão, mas porque se apresentava como economista sem dúvidas. São uma bosta. E sem exceção.
«DN» de 26 Dez 12Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
Pois olhem, pensava eu que não pudesse haver contexto algum em que a palavra "bosta" fosse bem aplicada. Afinal há.
Parabéns a Ferreira Fernandes.
E parece-me até que aquela palavra cabe igualmente bem na caracterização de tantos grupos sociais e profissionais como aquele em que me incluo. Mas com (muitas) excepções.
O que a gente aprende.
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