O 'pacemaker' e o hospital privado
Por Ferreira Fernandes
A SAÚDE em polémica, com a entrevista de Soares dos Santos e o
internamento de Mário Soares. O dono do Pingo Doce disse: "Tenho um
pacemaker colocado pelo Estado que não me custou nada. Não admito isso."
E o ex-presidente da República, com uma indisposição, foi internado no
privado Hospital da Luz. Um homem que pagou com os seus impostos o
direito de se servir do SNS (Soares dos Santos é modesto quando diz "não
me custou nada"), mostra-se incomodado por, tendo posses, ter um
pacemaker a preço igual ao de um pobre: "Não admito isso." A solução é
fácil: que ele ofereça um pacemaker ao hospital.
Resolvido isto,
passemos ao outro caso, apresentado por alguns como uma contradição de
um homem que defende o SNS: Mário Soares não deveria ter ido para o
Hospital de Santa Maria? Não discuto questões tão pessoais que só dizem
respeito ao próprio e seus familiares. Mas é legítimo assinalar uma
provável contradição entre o que um político diz e o que faz.
Vejamos se
houve, ou não, contradição. Soares defende o SNS em palavras? Sim,
Mário Soares quer um SNS em que qualquer cidadão tenha direito, por
exemplo, a um pacemaker. E em atos, Soares atacou o SNS? Não, Soares não
retirou a ninguém o direito de ter um Hospital de Santa Maria. Ele foi
para a Luz porque se calhar queria um quarto melhor (e nada temos com
isso).
Conclusão, duas polémicas baratas, que se resolvem pelo preço de
um pacemaker, ainda por cima pago por um milionário.
«DN» de 15 Jan 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
O que eu não admito é que Soares dos Santos não pague os impostos cá! De resto tem direito aos tratamentos devidos a qualquer português!
Quanto a Soares é uma questão de exemplo ético que só o prejudica a ele ( e aparentemenente beneficia a nós, pois alivia o SNS). Bom tema para investigação jornalística - quem paga a conta no Hospital da Luz - seremos nós?
Enviar um comentário
<< Home