22.2.13

Que mais nos irá acontecer?!

Por Ferreira Fernandes
O JORNALISMO anda atrapalhado - sem dinheiro e sem entender como ganhar com o online - mas, nestes dias, tem-lhe caído dos céus o melhor dos subsídios: notícias extraordinárias. 
O mais carismático dos governantes, o Papa, cuja função é marcada pela tradição estrita, quebra um tabu secular. Ainda nesses domínios celestes, surgem dois fenómenos, um asteroide e um meteoro, no mesmo dia e sem nada terem a ver um com o outro. Ontem, o jornal La Repubblica revela escândalos no Vaticano que levaram à renúncia de Bento XVI e a Visão anuncia o fim das ilusões cardinalícias de um dos mais brilhantes bispos portugueses. Um estranho e famoso atleta olímpico, Oscar Pistorius, mata a namorada. No campo da música, ressuscita espetacularmente uma canção datada, Grândola. E Miguel Relvas anda por aí, o que dá sempre notícia (e que não ande, dá sempre: ontem, António Costa vê-se obrigado a defendê-lo contra os ataques violentos de Pacheco Pereira e Lobo Xavier). 
É o que eu dizia, estes dias são para os jornais como certos anos bissextos para o Barca Velha, uma sucessão de raras circunstâncias que permite um néctar. Pode faltar-nos emprego e crescimento, dinheiro para a renda e esperança para os filhos mas em manchetes vivemos regalados. O estupor de hoje faz esquecer a surpresa de ontem. Percebo a crise em geral, o petróleo está mais caro e crédito não há, mas não vejo desculpa para a crise dos jornais, com tanta, oferecida e excitante matéria-prima. 
«DN» de 22 Fev 13

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