Que mais nos irá acontecer?!
Por Ferreira Fernandes
O JORNALISMO anda atrapalhado - sem dinheiro e sem entender como ganhar com o online -
mas, nestes dias, tem-lhe caído dos céus o melhor dos subsídios:
notícias extraordinárias.
O mais carismático dos governantes, o Papa,
cuja função é marcada pela tradição estrita, quebra um tabu secular. Ainda nesses domínios celestes, surgem dois fenómenos, um asteroide e um
meteoro, no mesmo dia e sem nada terem a ver um com o outro. Ontem, o
jornal La Repubblica revela escândalos no Vaticano que levaram à renúncia de Bento XVI e a Visão anuncia
o fim das ilusões cardinalícias de um dos mais brilhantes bispos
portugueses. Um estranho e famoso atleta olímpico, Oscar Pistorius, mata
a namorada. No campo da música, ressuscita espetacularmente uma canção
datada, Grândola. E Miguel Relvas anda por aí, o que dá sempre
notícia (e que não ande, dá sempre: ontem, António Costa vê-se obrigado a
defendê-lo contra os ataques violentos de Pacheco Pereira e Lobo
Xavier).
É o que eu dizia, estes dias são para os jornais como certos
anos bissextos para o Barca Velha, uma sucessão de raras
circunstâncias que permite um néctar. Pode faltar-nos emprego e
crescimento, dinheiro para a renda e esperança para os filhos mas em
manchetes vivemos regalados. O estupor de hoje faz esquecer a surpresa
de ontem. Percebo a crise em geral, o petróleo está mais caro e crédito
não há, mas não vejo desculpa para a crise dos jornais, com tanta,
oferecida e excitante matéria-prima.
«DN» de 22 Fev 13 Etiquetas: autor convidado, F.F
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