21.2.13

Bernardino Soares, Relvas e os gritos

Por Ferreira Fernandes 
ONTEM, o deputado comunista Bernardino Soares disse dos gritos a Miguel Relvas: "O sr. ministro, logo ele, vai para uma universidade discursar, vai à procura dos acontecimentos." Enfim, Relvas estava a pedi-las... Perigoso hábito, esse, de proprietário de direitos, distribuindo e regateando. Há quem, "logo ele", não possa ir discursar para as universidades, é? Então, deixem-me recordar um episódio em que os comunistas estiveram para ser vítimas desse erro. Em maio de 1968, o jornal comunista francês L'Humanité denunciou o movimento estudantil, acusando-o de ser manobrado "por grupúsculos do anarquista alemão Cohn-Bendit." A 9 de maio, em Paris, a Sorbonne foi ocupada pelos estudantes. Um homem de cabelos brancos, o grande poeta Louis Aragon, comunista, pediu a palavra. Mas chovem insultos, impedindo-o de falar, ainda estava vivo o repúdio pelo editorial indecente do L'Humanité. Cohn-Bendit ergueu-se e impôs: "Todos têm direito à palavra, até os traidores", e estendeu o megafone ao poeta. É uma das fotos icónicas do Maio de 68: é capa do livro do fotógrafo Serge Hambourg, Aragon com o megafone a falar, com o ruivo Cohn-Bendit a ouvi-lo. 
Relvas deve ser tão mau a fazer poemas como a cantar a Grândola. Mas deveria ter falado sobre "Como vai ser o jornalismo nos próximos 20 anos?", para que fora convidado. E o mais sábio dos estudantes gritadores deveria ter aproveitado para mostrar que o ministro não pesca nada do assunto. 
«DN» de 21 Fev 13

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1 Comments:

Blogger O Galã de Massa Má said...

Excelente artigo.
Falta-lhe apenas uma nota.
Como é que um gajo com a estrutura e a estatura do Relvas pode ser convidado para falar onde quer que seja?
Será para servir de exemplo (negativo) para as gerações futuras?

21 de fevereiro de 2013 às 13:48  

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