27.3.13

Sem carro, sem casa, sem trabalho

Por Joaquim Letria 
ESTOU a ficar na dúvida, sem saber a quantas é melhor andar. Eu explico: Estou sem carro, sem casa e sem trabalho. 
Há 50 anos, dava de frosques, punha as pernas a caminho, dava corda aos sapatos, falava com três ou quatro pessoas e alguma coisa se iria arranjar. 
Há 30 anos, ficava desesperado, agarrava no resto do dinheiro, pedia mais algum emprestado e emigrava. Logo se veria o que sairia na rifa, mas alguma coisa se haveria de conseguir. 
Hoje, sem carro, sem casa e sem trabalho, nesta idade, é um descanso!
Não me preocupam, de todo, os preços dos combustíveis. Não quero saber se o gasóleo desce e a gasolina sobe, ou se o Hollande vai pôr uma coisa e outra ao mesmo preço. Não gasto combustível e de transportes públicos ando o mínimo possível.
Como não tenho casa e vivo por favor numa parte de casa com serventia de cozinha, quero lá saber do IMI ou preocupa-me lá a nova lei das rendas! Néspias! Tenho é de me dar bem com os meus vizinhos, para não me subirem a renda nem me despejarem do quartinho alugado, porque este é um sítio muito central para ir a pé para os biscates que me vão aparecendo. 
Sem trabalho é um descanso. Sou patrão de mim próprio, trabalho segundo o meu próprio horário, não aturo patrões estúpidos nem chefes incompetentes e não tenho de gramar colegas preocupados com o euromilhões, com os filhos nem com o Futebol Clube do Porto. 
Por fim, como não tenho dinheiro para pôr no banco, durmo descansado, que nem um anjinho, sem me preocupar com a zona euro, se vamos ou não voltar ao escudo, não sonho com a Merkel, não penso em Chipre e quero que o Constâncio e o Gaspar dêem uma volta ao bilhar grande… 
Sem carro, sem casa e sem trabalho é um descanso! Porque pensam que cada vez há mais gente a viver assim?!

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4 Comments:

Blogger José Batista said...

Pois, caro Joaquim Letria, julgo que o entendo bem.

Eu cá tenho uma casita, um carro com apenas treze anos e, por enquanto, continuo professor do ensino secundário.

Agora, vamos ao caso que o Joaquim Letria tem necessidade de ou quer vir a Braga. Então, pela estadia (deixei de dizer "estada") não precisaria de se preocupar. Como os meus rapazes estão um no estrangeiro e o outro no Porto, a casa está meio vazia, comigo e com a minha mulher, pelo que tem um quarto à disposição, bem como a nossa humilde mesa.
E olhe que para nós seria uma honra.

Quanto aos nossos governantes e aos nossos autarcas, muitos deles, mais os senhores da Europa e do dinheiro, diabo que os carregue.

27 de março de 2013 às 19:03  
Blogger Unknown said...

Jaquimamigo

Estou totalmente contigo!!!!!(*)

Abç

Henrique

(*) E a minha malta, Raquel, filhos noras netos e neta também estão

27 de março de 2013 às 20:32  
Blogger Madalena Amaral said...


Então, quanto menos se tem mais feliz se é!...:)

28 de março de 2013 às 19:58  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Diógenes procurava viver com o mínimo possível. A sua casa era uma barrica, e apenas tinha uma malga para beber água.
Um dia, viu uma criança a beber pela mão, concluiu que a tijela era supérflua e deitou-a fora...

Mais recentemente, um outro filósofo disse que «a riqueza de uma pessoa mede-se não pelo que tem, mas pelo que consegue dispensar»...

28 de março de 2013 às 20:18  

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