«Dito & Feito»
Por José António Lima
NA SUA ingenuidade de novato nestas andanças da alta política, o
recém-eleito líder da UGT, Carlos Silva, já se havia descaído e
revelado, há uns bons dez dias, que Passos Coelho «assumiu perante a UGT
que essa questão da taxa sobre as pensões não vai para a frente».
Carlos
Silva adiantou mesmo: «A ideia é que o CDS, que lançou essa sugestão
pela voz do seu líder, se vê obrigado a apresentar uma alternativa que
tenha os mesmos resultados orçamentais». Caso transitoriamente arrumado?
Sim, pensou-se. Não, entendeu Paulo Portas. Que decidiu radicalizar
inesperadamente a sua posição no passado fim de semana.
O que terá
incitado o líder do CDS a extremar a sua exigência de retirar desde já a
‘TSU dos pensionistas’ do relatório da 7.ª avaliação da troika – quando
já tinha o compromisso de princípio de Passos Coelho de a deixar
substituir por medidas alternativas? O que terá levado Portas ao ponto
de quase ter provocado a demissão do primeiro-ministro e a queda do
Governo? Que só a intervenção superior e moderadora do Presidente da
República terá evitado, já in extremis?
Haverá, pelo menos, duas
ordens de razões. A primeira é que Portas pretendia ter desde já nas
suas mãos a bandeira do paladino contra a ‘TSU dos pensionistas’. Para
assim camuflar a duplicidade da sua posição em relação aos pensionistas
da Segurança Social, nos quais não tolera um corte de 436 milhões de
euros, e aos pensionistas da Caixa Geral de Aposentações, nos quais já
acha perfeitamente admissível um corte de 740 milhões. E para poder
arvorar essa bandeira desculpabilizante no momento melindroso em que se
tornarem claros os cortes, que caucionou, de 10% ou mais nos reformados
da CGA – juízes, militares, professores, médicos, etc. – que irão ver as
suas reformas mensalmente reduzidas em 200, 300, 400 euros ou mais.
A
segunda ordem de razões é que cabe a Portas, como confirmou
inadvertidamente o líder da UGT, o incómodo e impopular encargo de
apresentar cortes alternativos à ‘TSU dos pensionistas’. Tal como lhe
cabia a ele a incumbência de dar à luz do dia o célebre guião de cortes
estruturais na despesa do Estado. Que vem adiando de semana para semana.
Percebe-se bem porquê.
«SOL» de 17 Mai 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
1 Comments:
Creio que Paulo Portas percebe que desta vez está metido num assado.
Mas nós, quase todos nós, estamos muitíssimo pior do que ele.
E menos merecidamente.
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