«Dito & Feito»
Por José António Lima
REPETINDO a lengalenga radical que vem desfiando em entrevistas e
artigos avulso, Mário Soares voltou há dias a afirmar que o Governo de
Passos Coelho «não é legítimo» e a ameaçar, mais uma vez, que a política
de austeridade «é uma coisa que pode levar a actos de violência» nas
ruas de Portugal.
Acontece que duas semanas antes, a 10 de Junho,
Soares saíra de um encontro com a Presidente do Brasil, de visita a
Lisboa, encantado com a clarividência política da interlocutora: «Fiquei
extremamente impressionado, somos camaradas, ambos de esquerda, tem um
pensamento muito claro sobre o que se está a passar». Um pensamento tão
claro, refira-se, que levou Dilma Rousseff a ser apanhada completamente
desprevenida pela onda de protestos e manifestações que irrompeu por
todo o Brasil – por ironias do destino, logo nos dias a seguir ao seu
clarividente bate-papo com Mário Soares, a 11 e 13 de Junho.
Dilma
que é «de esquerda» e «uma pessoa de uma inteligência superior» – como
salienta Soares – revelou uma impensável inépcia política na gestão da
crise que tomou de assalto as ruas brasileiras, permitindo que a
contestação ao aumento dos transportes se convertesse em gigantescas
manifestações inorgânicas que degeneraram em actos de vandalismo,
violência descontrolada e tentativas de assalto a edifícios públicos
como o palácio Itamaraty em Brasília.
A Presidente brasileira
perdeu a mão na situação ao longo de dez tumultuosos dias. Fez uma
primeira intervenção pública desastrada que em nada ajudou a controlar a
desordem. E acabou a oferecer promessas irrealistas a tudo e a todos.
Difícil de acreditar.
Mário Soares, por seu lado, enquanto não se
cansa de invocar potenciais «actos de violência» nas ruas portuguesas
contra o Governo «da direita neoliberal», viu rebentar os protestos e o
vandalismo não onde vem agoirando, mas noutro e inesperado local: nas
avenidas brasileiras da sua amiga Dilma e do seu Governo «de esquerda».
Nesta
questão, é caso para dizer que a intuição política de Mário Soares
baixou ao nível da liderança da crise demonstrada por Dilma Rousseff: um
verdadeiro zero à esquerda.
«SOL» de28 Jun 13Etiquetas: autor convidado, JAL
3 Comments:
Vi escrito que Dilma Rousseff a primeira coisa que fez quando se viu em palpos de aranha foi correr para Lula da Silva. Enfim, para quem se queria uma grande líder..., mais, uma Presidenta!... Enfim.
Mas que o governo português está sem legitimidade, e sem alguns ministros, lá isso está. Ou então é um governo legítimo de "suópes".
E nós, que já estávamos fritos, vamos de frigidos para esturricados.
Legitimamente, em termos políticos?
Raios partam tais políticas.
Curiosamente, Mário Soares pode ter dito o que não devia mas aconteceu o que previa.
sendo camarada dele fazia um favor a "boa" imagem que MS deixou nos eleitores que não estrague essa imagem com estulticias cada vez mais frequentes(pode ser da idade)
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