2.7.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
REPETINDO a lengalenga radical que vem desfiando em entrevistas e artigos avulso, Mário Soares voltou há dias a afirmar que o Governo de Passos Coelho «não é legítimo» e a ameaçar, mais uma vez, que a política de austeridade «é uma coisa que pode levar a actos de violência» nas ruas de Portugal.
Acontece que duas semanas antes, a 10 de Junho, Soares saíra de um encontro com a Presidente do Brasil, de visita a Lisboa, encantado com a clarividência política da interlocutora: «Fiquei extremamente impressionado, somos camaradas, ambos de esquerda, tem um pensamento muito claro sobre o que se está a passar». Um pensamento tão claro, refira-se, que levou Dilma Rousseff a ser apanhada completamente desprevenida pela onda de protestos e manifestações que irrompeu por todo o Brasil – por ironias do destino, logo nos dias a seguir ao seu clarividente bate-papo com Mário Soares, a 11 e 13 de Junho.
Dilma que é «de esquerda» e «uma pessoa de uma inteligência superior» – como salienta Soares – revelou uma impensável inépcia política na gestão da crise que tomou de assalto as ruas brasileiras, permitindo que a contestação ao aumento dos transportes se convertesse em gigantescas manifestações inorgânicas que degeneraram em actos de vandalismo, violência descontrolada e tentativas de assalto a edifícios públicos como o palácio Itamaraty em Brasília.
A Presidente brasileira perdeu a mão na situação ao longo de dez tumultuosos dias. Fez uma primeira intervenção pública desastrada que em nada ajudou a controlar a desordem. E acabou a oferecer promessas irrealistas a tudo e a todos. Difícil de acreditar.
Mário Soares, por seu lado, enquanto não se cansa de invocar potenciais «actos de violência» nas ruas portuguesas contra o Governo «da direita neoliberal», viu rebentar os protestos e o vandalismo não onde vem agoirando, mas noutro e inesperado local: nas avenidas brasileiras da sua amiga Dilma e do seu Governo «de esquerda».
Nesta questão, é caso para dizer que a intuição política de Mário Soares baixou ao nível da liderança da crise demonstrada por Dilma Rousseff: um verdadeiro zero à esquerda. 
«SOL» de28 Jun 13

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3 Comments:

Blogger José Batista said...

Vi escrito que Dilma Rousseff a primeira coisa que fez quando se viu em palpos de aranha foi correr para Lula da Silva. Enfim, para quem se queria uma grande líder..., mais, uma Presidenta!... Enfim.

Mas que o governo português está sem legitimidade, e sem alguns ministros, lá isso está. Ou então é um governo legítimo de "suópes".
E nós, que já estávamos fritos, vamos de frigidos para esturricados.
Legitimamente, em termos políticos?
Raios partam tais políticas.

2 de julho de 2013 às 18:44  
Blogger Carlos Esperança said...

Curiosamente, Mário Soares pode ter dito o que não devia mas aconteceu o que previa.

3 de julho de 2013 às 01:25  
Blogger Unknown said...

sendo camarada dele fazia um favor a "boa" imagem que MS deixou nos eleitores que não estrague essa imagem com estulticias cada vez mais frequentes(pode ser da idade)

4 de julho de 2013 às 11:38  

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