30.7.13

Papa Francisco não mordeu um cão

Por Ferreira Fernandes
DIZEM os manuais de jornalismo: "Se um cão morde um bispo, não é notícia; mas se um bispo morde um cão, já é." Depende... É verdade que ao ver o velho guarda-livros, no regresso a casa, agarrado à sua pasta, nem damos por ele. Só o poeta Drummond de Andrade via a enormidade das coisas simples ("Nunca me esquecerei que no meio do caminho/ tinha uma pedra..."). Mas, às vezes, também a nós o que é normal nos deveria espantar mais. Não espantando, não houve notícia fotográfica - que merecia ser de página inteira e primeira - do velho homem de bata branca agarrado à sua pasta preta, na partida para o Brasil e no regresso a casa. É, no meio do caminho tinha um papa de pasta - e as manchetes não deram. Para salvar a honra do convento, no sábado, a jornalista Ana Gaspar contou no Jornal de Notícias: "Português cruza-se com o Papa Francisco a caminho da casa de banho." No Rio, o João Silveira ia à casa de banho, passa por uma sala, vê o Papa rodeado de gente, entra e fala com ele. Escreveu o jovem no Facebook: "O Papa está mesmo atento ao que dizemos, parece que somos a única pessoa na sala." Lá está, um jovem ir à casa de banho e um papa rodeado de gente poderão ser o género de banalidade não noticiável. Mas são ótimo pedestal para esta notícia que merece estátua: um papa que fala com a gente como se fosse gente. O Papa Francisco carrega a sua pasta e fala como gente. Reparem na gentileza dele: nem precisou de morder um cão. 
«DN» de 30 Jul 13

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