23.9.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
NÃO HÁ MEIO de António José Seguro se afirmar perante o país nem, pior ainda, de impor a solidez da sua liderança no interior do PS.
Tendo perdido o discurso e a bandeira das eleições antecipadas com a resolução da crise política de Julho, Seguro decidiu radicalizar o tom das suas intervenções públicas, acabando por colar o PS à oratória e à imagem do Bloco de Esquerda.
É preciso cortar na despesa do Estado, dado que não há dinheiro para manter o insustentável nível de custos públicos? O PS fará «a mais firme oposição a mais cortes nas funções sociais do Estado». É inevitável reduzir em algumas centenas de milhões de euros os gastos do Estado com as pensões públicas, equiparando-as às do sector privado? O PS não só «assume o compromisso de acabar com os cortes nas pensões» como promete «repor os cortes quando chegar ao Governo». O país não está em condições de poder reduzir a curto prazo as receitas do Estado? O PS vai apresentar já quatro propostas para aumentar a despesa e diminuir a receita, que passam pela «diminuição do IVA na restauração, a redução do IMI, da taxa do IRC para 12,5% (para os primeiros 12.500 euros de lucros) e o apoio estatal às rendas dos idosos». Todo este facilitismo esquerdista apenas desacredita a seriedade do maior partido da oposição enquanto alternativa de Governo. Partido que, ainda há pouco mais de dois anos, forçou o país a pedir a ajuda da troika e assinou ele próprio um memorando de austeridade. O qual Seguro agora desdiz e renega em cada uma das medidas a que o PS se comprometeu e assinou por baixo.
Quanto às autárquicas de dia 29, Seguro reduz as expectativas ao mínimo. Ganhá-las, repete, «significa o PS ter mais votos que o segundo partido». Ora, isso já o PS teve e com grande margem nas autárquicas de 2009: somou mesmo mais 123 mil votos que o PSD (37,7% contra 35,4%).
Não tem o PS tudo a seu favor, na actual conjuntura política e social, para obter a maioria das câmaras do país, já que apenas preside a menos 7 do que o PSD? Seguro não quer arriscar, apesar de quase todo o partido lhe pedir esse objectivo. Não se admire, por isso, de ver os socratistas, como Augusto Santos Silva, a estenderem já o tapete da liderança do PS a António Costa. Quem é timorato e joga à defesa não vai longe. 
«SOL» de 13 Set 13

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