«Dito & Feito»
Por José António Lima
A ÚNICA interrupção de um Conselho de Ministros que se arrastou por 17
longas horas foi para Paulo Portas explicar uma medida que omitira uma
semana antes – o corte nas pensões de sobrevivência – quando anunciou
que não avançaria a ‘TSU dos pensionistas’.
Medida da qual se soube
através de uma «fuga de informação irresponsável», nas palavras de
Portas, e que punha em causa a transparência das suas comunicações e a
lisura dos seus processos. O problema não era da informação em si, mas
da fuga da dita informação, que trouxe comprometedoramente a público o
que fora omitido.
Portas viu aí a oportunidade para fazer reverter
a situação a seu favor e levar a cabo um dos seus típicos ‘números’ de
política mediática. Aproveitou, pois, para dar a boa notícia de que só
25 mil dos 800 mil abrangidos com a pensão de sobrevivência iriam ser
afectados e verberar os mal intencionados que «quiseram assustar e
alarmar os idosos». A seu lado, sem proferirem uma palavra, sentavam-se
Maria Luís Albuquerque e Mota Soares.
Ora, esta encenação
política é bem o espelho do estado a que chegaram o Governo e a
coligação. Porque, num Orçamento para 2014 que retira mais 3.900 milhões
de euros aos bolsos dos portugueses e que corta 3.200 milhões na
despesa do Estado, a única comunicação que mereceu uma paragem no
Conselho de Ministros diz respeito a um corte de... 100 milhões – 32
vezes menos importante do que o total do enorme aperto que funcionários
públicos e reformados, em particular, vão sentir na pele em 2014.
Portas
soube fazer da questão marginal das pensões de sobrevivência ‘o caso’
do Orçamento. Deixando sem referência os novos e violentos cortes nos
salários, a redução das pensões da CGA e outras nas despesas com pessoal
e prestações sociais – que representam 2,2 mil milhões na consolidação
orçamental. Bem mais do que ‘o caso’ dos 100 milhões.
Passos
Coelho e o Conselho de Ministros deixaram Portas levar à cena, mais uma
vez, o seu ‘número’ de arauto das boas notícias. À ministra Maria Luís
Albuquerque coube o papel de dar as más notícias e a cara pelo Orçamento
mais difícil dos últimos anos. O país tem um Governo ou dois Governos?
«SOL» de 18 Out 13 Etiquetas: autor convidado, JAL
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