30.10.13

O Presidente e o Governo estão surdos

Por Baptista-Bastos
JÁ NINGUÉM confia no Governo." A frase é lugar-comum, mas adquire um peso maior quando dita por alguém como Luís Campos e Cunha, da SEDES (Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), e junta--se ao grande coro de indignações que percorre a sociedade portuguesa. Entretanto e por outro lado, Freitas do Amaral esclarece que o Executivo está a defrontar o Tribunal Constitucional no intuito de sair airosamente de uma situação degenerada. Também D. José Policarpo, patriarca emérito de Lisboa, manifesta o descontentamento que lhe provoca esta gente, lamentando que as alternativas não aparecem. Por último, numa notável entrevista a António José Teixeira, no programa A Propósito, da SIC-Notícias, Carlos do Carmo dizima a actividade do dr. Cavaco, como primeiro-ministro e como Presidente da República, acusando-o de causador de todos os males que nos afectam, por inépcia e falta de percepção histórica. Poucas vezes o nosso drama foi tão claramente enunciado como o fez o grande cantor, claramente emocionado.
A pátria está de pantanas, por uma governação aparentemente impune e alegremente estouvada. Os gritos de desespero que a fome e a desgraça despertam não são ouvidos em Belém. O crime terá, mais tarde ou mais cedo, de ser punido, e cada vez mais se acentuam as responsabilidades políticas e morais de um Governo que o não é, e de um Presidente que não há. Todos os dias da semana há protestos nas ruas, os governantes andam com um batalhão de "gorilas" a resguardar-lhes o corpo, os suicídios aumentam, milhares de famílias não têm pão para pôr na mesa, o País despovoa-se da sua juventude e temos a gelada sensação de que ninguém nos ajuda. Nas Jornadas Parlamentares do PSD-CDS, Paulo Portas, cuja imagem, distorcida e embaciada, está cada vez mais parecida com a do espelho em que se revê, abriu a sessão garantindo que já se vislumbra melhorias na economia. Mas que é isto? Vivemos nesta mentira, neste embuste, nesta pouca--vergonha que degrada a ética republicana e provoca amolgadelas maiores nos valores e nos padrões morais do nosso modo de relação social.
António José Seguro permanece ofuscado por qualquer problema que se desconhece. Nada diz, nada faz, em nada age. Cumplicia-se com o silêncio tenaz dos que se não querem comprometer. E as hostes agitam-se, cada vez mais, no PS, adquirindo proporções de que se registou uma pálida ideia na sessão de lançamento de um livro de José Sócrates. Esta agitação impeliu o antigo ministro Catroga ao beligerante comentário de que o ex-primeiro-ministro do PS deveria ser julgado. Bom. Neste caso e decorrências, o Catroga passaria ao lado? Ele, os que o antecederam e sucederam são santos impolutos e criaturas intocáveis?
O mal-estar que envolve o País tem muito a ver com este distúrbio, da natureza da consciência e de uma identidade própria que eles desagregam.
«DN» de 30 Out 13

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Nem os membros do governo confiam uns nos outros, nem, creio, em si próprios. E parece-me que os que menos confiam um no outro serão mesmo o primeiro (?) ministro e o vice-primeiro ministro.

Agora, julgar Sócrates não era má ideia, se no país houvesse justiça. E não só ele como todos os que com ele colaboraram ou deram cobertura ou mesmo apoiaram ou esconderam (lembro-me de ver imagens de um processo em que as partes relativas ao senhor foram cortadas à... tesoura!) acções que terá praticado, e que são coerentes com aqueles projectos de engenharia civil (?) lá pela Beira Alta, o diploma obtido ao domingo, o exame (?) enviado por fax, etc, etc... Um homem de extraordinários princípios, sim senhor.

Agora os trastes que nos desgovernam, o presidente que nos envergonha (mais o tipo de amigos que foi "coleccionando": Limas, Loureiros, Costas...), os que anteriormente nos desgovernaram, os outros antes deles, até àquele prodígio que fugiu para a Europa, mais o falinhas mansas que o antecedeu, bem que haviam também de responder pelo abismo para que nos foram conduzindo.

Mas, espera lá, fomos nós que os fomos elegendo...
Porca de vida!
Porém, a dignidade não morreu neste país. Não morreu.
Quando conseguiremos eleger quem nos represente e nos respeite, e atirar com certos escroques pela borda fora?

Só que, olha-se para o (suposto) líder (!?) da oposição e morre-se de susto.

Apre!

30 de outubro de 2013 às 21:39  

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