O Presidente e o Governo estão surdos
Por Baptista-Bastos
JÁ NINGUÉM confia no Governo." A frase é lugar-comum, mas adquire um peso
maior quando dita por alguém como Luís Campos e Cunha, da SEDES
(Associação para o Desenvolvimento Económico e Social), e junta--se ao
grande coro de indignações que percorre a sociedade portuguesa.
Entretanto e por outro lado, Freitas do Amaral esclarece que o Executivo
está a defrontar o Tribunal Constitucional no intuito de sair
airosamente de uma situação degenerada. Também D. José Policarpo,
patriarca emérito de Lisboa, manifesta o descontentamento que lhe
provoca esta gente, lamentando que as alternativas não aparecem. Por
último, numa notável entrevista a António José Teixeira, no programa A
Propósito, da SIC-Notícias, Carlos do Carmo dizima a actividade do dr.
Cavaco, como primeiro-ministro e como Presidente da República,
acusando-o de causador de todos os males que nos afectam, por inépcia e
falta de percepção histórica. Poucas vezes o nosso drama foi tão
claramente enunciado como o fez o grande cantor, claramente emocionado.
A
pátria está de pantanas, por uma governação aparentemente impune e
alegremente estouvada. Os gritos de desespero que a fome e a desgraça
despertam não são ouvidos em Belém. O crime terá, mais tarde ou mais
cedo, de ser punido, e cada vez mais se acentuam as responsabilidades
políticas e morais de um Governo que o não é, e de um Presidente que não
há. Todos os dias da semana há protestos nas ruas, os governantes andam
com um batalhão de "gorilas" a resguardar-lhes o corpo, os suicídios
aumentam, milhares de famílias não têm pão para pôr na mesa, o País
despovoa-se da sua juventude e temos a gelada sensação de que ninguém
nos ajuda. Nas Jornadas Parlamentares do PSD-CDS, Paulo Portas, cuja
imagem, distorcida e embaciada, está cada vez mais parecida com a do
espelho em que se revê, abriu a sessão garantindo que já se vislumbra
melhorias na economia. Mas que é isto? Vivemos nesta mentira, neste
embuste, nesta pouca--vergonha que degrada a ética republicana e provoca
amolgadelas maiores nos valores e nos padrões morais do nosso modo de
relação social.
António José Seguro permanece ofuscado por
qualquer problema que se desconhece. Nada diz, nada faz, em nada age.
Cumplicia-se com o silêncio tenaz dos que se não querem comprometer. E
as hostes agitam-se, cada vez mais, no PS, adquirindo proporções de que
se registou uma pálida ideia na sessão de lançamento de um livro de José
Sócrates. Esta agitação impeliu o antigo ministro Catroga ao
beligerante comentário de que o ex-primeiro-ministro do PS deveria ser
julgado. Bom. Neste caso e decorrências, o Catroga passaria ao lado?
Ele, os que o antecederam e sucederam são santos impolutos e criaturas
intocáveis?
O mal-estar que envolve o País tem muito a ver com
este distúrbio, da natureza da consciência e de uma identidade própria
que eles desagregam.
«DN» de 30 Out 13 Etiquetas: BB
1 Comments:
Nem os membros do governo confiam uns nos outros, nem, creio, em si próprios. E parece-me que os que menos confiam um no outro serão mesmo o primeiro (?) ministro e o vice-primeiro ministro.
Agora, julgar Sócrates não era má ideia, se no país houvesse justiça. E não só ele como todos os que com ele colaboraram ou deram cobertura ou mesmo apoiaram ou esconderam (lembro-me de ver imagens de um processo em que as partes relativas ao senhor foram cortadas à... tesoura!) acções que terá praticado, e que são coerentes com aqueles projectos de engenharia civil (?) lá pela Beira Alta, o diploma obtido ao domingo, o exame (?) enviado por fax, etc, etc... Um homem de extraordinários princípios, sim senhor.
Agora os trastes que nos desgovernam, o presidente que nos envergonha (mais o tipo de amigos que foi "coleccionando": Limas, Loureiros, Costas...), os que anteriormente nos desgovernaram, os outros antes deles, até àquele prodígio que fugiu para a Europa, mais o falinhas mansas que o antecedeu, bem que haviam também de responder pelo abismo para que nos foram conduzindo.
Mas, espera lá, fomos nós que os fomos elegendo...
Porca de vida!
Porém, a dignidade não morreu neste país. Não morreu.
Quando conseguiremos eleger quem nos represente e nos respeite, e atirar com certos escroques pela borda fora?
Só que, olha-se para o (suposto) líder (!?) da oposição e morre-se de susto.
Apre!
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