3.12.13

Morreu a sério como viveu a fazer de conta

Por Ferreira Fernandes
Na morte de Paul Walker, Le Monde titulou: "O ator de Velocidade Furiosa morre num acidente de estrada". O artigo tornou-se o mais partilhado da história do site do jornal francês. O ator de uma saga que vive de choques espetaculares de carros tunados morre num acidente de Porsche contra um poste - eis o que é de uma ironia notável. 
O título seco é uma saudação à inteligência do leitor: o facto que grita não precisa que os jornalistas gritem por ele. Velocidade Furiosa (Fast & Furious, já sete filmes) é uma série vulgar com um sucesso extraordinário, não lhe procurem estados de alma porque a alma não está lá, só personagens sem espessura. A Paul Walker, por exemplo, bastava-lhe ter sorriso bonito e olhos azuis. Quem nunca espreitou um Big Brother que atire a primeira pedra. 
Outra coisa (ou talvez não): sabem que Walker entrou no filme As Bandeiras de Nossos Pais, de Clint Eastwood? Ele fazia de uma personagem real, o sargento Hank Hansen, que ergueu a primeira bandeira americana na batalha de Iwo Jima, contra os japoneses, II Guerra Mundial. A segunda foto, tirada por Joe Rosenthal a um outro grupo de soldados, é que ficou famosa. A história do filme é sobre os soldados que foram tirados do morticínio real para serem passeados pelos EUA em propaganda da foto, combatentes transformados em símbolos. Hank não foi desses, morrera dias antes, sem lenda. Já Paul Walker, ex-Hank Hansen, virou agora ícone de outros tempos.
«DN» de 3 Dez 13

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