30.11.13

Sim, comparei-nos com os nossos burros

Por Ferreira Fernandes
Há meses croniquei aqui sobre os burros de Miranda ("Afinal nem tudo é asno", 24 de Fevereiro de 2013). Ontem, o The New York Times também se interessou pelo burro mirandês. Raphael Minder , o jornalista, lançou a metáfora: "O destino do burro começa a assemelhar-se ao dos humanos: ameaçado pelo declínio populacional e dependente para sobreviver dos subsídios da União Europeia." Claro, feriu suscetibilidades. Logo se disse que os americanos comparam portugueses ao burro mirandês... Minder, falando para o Público, teve de dizer que longe dele pensar isso. Foi, então, que eu me dei conta da tangente que passei ao apedrejamento. É que eu comparei, mesmo, os portugueses e os burros de Miranda! Mais, ousei dizer que, na comparação, os homens ficavam em desvantagem. É que na minha crónica eu referia o Centro de Acolhimento de burros, em Miranda do Douro, por onde andou agora Raphael Minder. Ali, os velhos transmontanos, de 70 anos, vão levar os companheiros, que aos 35 são tão velhos quanto eles, para terem uma reforma digna. Ali, limam-se os dentes pontiagudos aos burros, cuidam dos cascos e deixam-nos passear sem precisar de arrastar o arado... Confesso que me comovi por ver bem tratados portugueses que ficaram velhos para o mercado de trabalho. Embora também amargo por saber que a outros velhos compatriotas, quando bípedes, se lhes lança a pergunta moderna: "Qual é a parte de "não há dinheiro para ti" que não entendes?"
«DN» de 30 Nov 13

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