O olho de Durão e o dos ucranianos

Por Ferreira Fernandes

A Ucrânia bateu com a porta à UE e Durão Barroso, sugerindo pressões da Rússia, avisou: "Os tempos da soberania limitada na Europa já acabaram..." A linguagem ríspida, tão rara, contra Moscovo mostra como a recusa do Presidente ucraniano Viktor Ianukovich doeu em Bruxelas, isto é, em Berlim. Dias antes, discursando no Bundestag, Angela Merkel falou da importância dessa aproximação ao Leste: "Faz parte do nosso interesse estratégico." E precisou: "Nosso, e especialmente da Alemanha." Ao falar do argueiro no olho ucraniano, Durão Barroso não viu a trave no seu: nós esquecemos demasiadas vezes que a Alemanha precisa tanto da UE como nós e, sendo assim, ela não pode tirar os proveitos que tem tido com a crise. Nós devíamos ter escolhido outro caminho que não a abdicação perante o tipo de austeridade seguido desde 2011 (a UE aceitaria alternativas). E devíamos querer, e impor, uma Europa entre iguais, de soberania partilhada pelos europeus, considerando que todos têm os seus defeitos e virtudes. Por exemplo, porque temos, só nós, de pagar juros com língua de palmo por causa do nosso défice financeiro (defeito que, de facto, a Alemanha não tem) e iremos pagar (ai, vamos, vamos...), todos, a UE coletivamente, o desastre político, social e cultural que é a não integração dos muçulmanos na Bélgica e na Alemanha (problema que por cá é irrelevante)? A UE, se é de soberania ilimitada, deveria tratar os seus problemas solidariamente. 

«DN» de 1 Dez 13