2.4.14

«Dito & Feito»

Por José António Lima
António José Seguro apostou numa táctica política com efeitos imediatos garantidos, mas difícil de sustentar para além do curto prazo: a de recusar quaisquer propostas de austeridade e de fugir a dizer que medidas aplicaria o PS no governo para baixar o défice e a dívida do país - compromisso que os socialistas assumiram como seu ao subscreverem o Tratado Orçamental.
O Governo propõe a convergência das pensões da CGA para baixar umas centenas de milhões de euros na despesa do Estado? O PS promete logo que reporá na íntegra o valor dessas pensões assim que chegar ao poder. A coligação PSD/CDS aplica a CES para ir buscar mais uns milhões nas receitas públicas? O PS não só instiga o TC a chumbar a CES como propõe mesmo reduções nas receitas do IVA e do IRS. Passos procura saber em que matérias será possível um entendimento de médio prazo na governação do estado? Seguro responde de imediato que há divergências insanáveis, sem especificar quais ou em quê.
Ora, “Seguro vai ter de dizer com clareza o que quer em relação aos grandes objectivos macroeconómicos para os próximos anos. Não basta dizer que há uma 'divergência insanável'. Os portugueses querem saber mais”. Quem assim avisa o líder do PS não é nenhum membro mais belicoso e politiqueiro do PSD ou do Governo. É o prudente e moderado Teixeira dos Santos, responsável máximo das Finanças na governação de Sócrates.
Todos sabem - a começar pelo conselheiro económico de Seguro, Óscar Gaspar, que resolveu falar com seriedade e clareza - que não será possível a curto prazo repor os cortes já feitos nos salários e pensões. Nem será possível que o PS tenha condições ou sequer a hipótese para o fazer quando regressar a S. Bento. Não chega, por isso, repetir balofamente todos os dias, como faz Seguro: “Queremos parar com os cortes, que já deviam ter parado há muito tempo, e iniciar a recuperação dos salários e das pensões dos portugueses”. Ninguém acredita.
Além do mais, até eleitoralmente a táctica de Seguro acaba por se virar contra ele e contra o PS. Nenhum português leva a sério o discurso de facilidades e do fim milagroso da austeridade que Seguro vem apregoando.
«SOL» 22 Mar 14

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