«Dito & Feito»
Por José António Lima
António José Seguro apostou numa táctica política com efeitos imediatos
garantidos, mas difícil de sustentar para além do curto prazo: a de
recusar quaisquer propostas de austeridade e de fugir a dizer que
medidas aplicaria o PS no governo para baixar o défice e a dívida do
país - compromisso que os socialistas assumiram como seu ao subscreverem
o Tratado Orçamental.
O Governo propõe a convergência das pensões da
CGA para baixar umas centenas de milhões de euros na despesa do Estado? O
PS promete logo que reporá na íntegra o valor dessas pensões assim que
chegar ao poder. A coligação PSD/CDS aplica a CES para ir buscar mais
uns milhões nas receitas públicas? O PS não só instiga o TC a chumbar a
CES como propõe mesmo reduções nas receitas do IVA e do IRS. Passos
procura saber em que matérias será possível um entendimento de médio
prazo na governação do estado? Seguro responde de imediato que há
divergências insanáveis, sem especificar quais ou em quê.
Ora,
“Seguro vai ter de dizer com clareza o que quer em relação aos grandes
objectivos macroeconómicos para os próximos anos. Não basta dizer que há
uma 'divergência insanável'. Os portugueses querem saber mais”. Quem
assim avisa o líder do PS não é nenhum membro mais belicoso e
politiqueiro do PSD ou do Governo. É o prudente e moderado Teixeira dos
Santos, responsável máximo das Finanças na governação de Sócrates.
Todos
sabem - a começar pelo conselheiro económico de Seguro, Óscar Gaspar,
que resolveu falar com seriedade e clareza - que não será possível a
curto prazo repor os cortes já feitos nos salários e pensões. Nem será
possível que o PS tenha condições ou sequer a hipótese para o fazer
quando regressar a S. Bento. Não chega, por isso, repetir balofamente
todos os dias, como faz Seguro: “Queremos parar com os cortes, que já
deviam ter parado há muito tempo, e iniciar a recuperação dos salários e
das pensões dos portugueses”. Ninguém acredita.
Além do mais, até
eleitoralmente a táctica de Seguro acaba por se virar contra ele e
contra o PS. Nenhum português leva a sério o discurso de facilidades e
do fim milagroso da austeridade que Seguro vem apregoando.
«SOL» 22 Mar 14 Etiquetas: autor convidado, JAL
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