2.5.14

É tão óbvio que devia fazer marcha atrás

Por Ferreira Fernandes 
Houvesse uma unanimidade nacional, Nobel ou santo, e essa voz requisitaria os microfones para um apelo, às 20, antes dos telejornais: "Tiago, português!" E a voz prosseguia: "Quero que saibas que o que te vou pedir é de importância mediana. Não é morte de homem." Silêncio curto e olhar firme: "É só sobre o Mundial de futebol e sermos lá felizes. É muito, como vês, mas nada de transcendente, não morremos se fizermos má figura." Novo silêncio e voz: "Mas, Tiago Cardoso Mendes, seria importante sermos felizes. E tu podes fazer alguma coisa por isso." De seguida, como recapitulando: "Há três anos, abandonaste a seleção. Não importa as razões, já não eras o que havias sido, nem titular eras e, aos 29 anos, só podia ser a descer... Resolveste acabar antes de acabares, ok. Em Portugal ninguém de topo está preparado para ser secundarizado. Nenhum ex-primeiro-ministro aceita ser ministro..." Pausa longa e dedo apontado: "Por isso é que era importante um gesto teu. Podes ser uma lição por aceitares ser necessário sem seres imprescindível. Poucos esperavam, se calhar nem tu, que aos 32 anos chegasses à final da Champions, capitão do Atlético de Madrid. Terás menos pernas, mas tens uma cabeça de patrão, agora ainda melhor." Remate do apelo: "Retira a demissão, Tiago. Aceita os 30 minutos em que vamos precisar de ti por 5 ou 6 jogos e deixa-nos sonhar que cheguem a 7 e à final"... Se fôssemos inteligentes, esta seria uma campanha nacional. 
«DN» de 2 Mai 14 - Foto de: http://ztona.org/tiago/

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