6.9.14

O Estado Islâmico e a bruxaria


Por Antunes Ferreira

O CHAMADO Estado Islâmico continua a demonstrar ser criminoso, oportunista e arrogante. As duas decapitações dos jornalistas norte-americanos, James Forley e Steven Sottloff e a possivelmente próxima de um outro trabalhador da comunicação social, desta feita um inglês, David Hains, tem motivado os comentários mais diversos sobre a barbárie em nome do Alcorão. Mas comentários, entre os lamentos e o nojo, não passam disso mesmo – comentários. Entretanto mais alguém foi decapitado: um soldado curdo.

Os fundamentalistas, que fizeram vídeos sobre as execuções, alertaram Obama que o faziam para retaliar a entrada da força aérea dos Estados Unidos que vem bombardeando as posições dos jihadistas. No vídeo do segundo assassinato, o executor afirmou que: "Estou de volta, Obama, e eu estou de volta por causa de tua política externa arrogante para com o Estado islâmico, por causa de tua insistência em prosseguir com os teus bombardeamentos em Amerli, Zumar Mosul, apesar de termos feito avisos sérios. Assim como os mísseis continuam a atacar o nosso povo, a nossa faca continuará a atacar o pescoço do teu povo."

Isto é intolerável, é execrando, é um atentado à liberdade e à democracia. Os criadores do novo Califado assassinam muçulmanos como eles, às centenas de cada vez, por os considerarem mancomunados com o imperialismo ianque ou porque são xiitas sendo que eles são sunitas radicais. Por isso as execuções criminosas também têm atingido muitos sunitas. Segundo testemunhas, as mulheres são violadas e assassinadas e, os homens enforcados. Os terroristas também fazem empalamentos, crucificações e desmembramentos.

No Ocidente as reacções efectivas têm sido poucas ou nenhumas. Obama tem demonstrado uma indecisão que, pelo menos, já levou a opinião pública norte-americana a chamar-lhe “maricas”. No Reino Unido Cameron tenha desesperadamente fazer “qualquer coisa” mas por enquanto o resultado é zero. Hollande preocupa-se mais com as declarações da antiga primeira-dama francesa, Valérie Trierweiler, que escreveu um livro sobre os anos em que viveu com ele, tentando dar à opinião pública a imagem correcta do homem com quem viveu e do político que governa a França. Os comentários não são bons nem para um lado nem para o outro e falam de uma "tragicomédia".

A União Europeia não sabe (pelo menos até agora) o que fazer perante a monstruosidade que o jihadistas continuam a praticar. De resto, a UE é cada vez mais uma montanha russa. Mas que vai perdendo as intenções com que Shuman e Monnet tinham quando avançaram para uma comunidade europeia. Montanha russa que cada vez mais vai descendo por plano inclinado e raramente tenta chegar ao cimo. Pode ser, infelizmente, o início do descalabro.  

Mas vejamos o perigo que a Europa corre. O Estado Islâmico compreenderia inicialmente os territórios da Síria e, pelo menos a parte sunita do Iraque. Porém a vontade declarada é mais abrangente. Segundo o desenho dos seus mapas, em cinco anos pretenderiam conquistar todo o norte de África, os Balcãs até à Áustria e Espanha e Portugal. Num continente que (ainda) é o nosso, de abdicação em abdicação, o avanço muçulmano não pode ser negado.  Na quinta-feira, 4 de Setembro, o grupo ameaçou destronar o presidente russo Vladimir Putin por apoiar o regime sírio.

E no entretanto continua a matança de xiitas, curdos, assírios, cristãos, arménios, yazidis, drusos, shabaks e mandeanos, alguns pouco conhecidos (ou mesmo desconhecidos) no mundo (ainda) ocidental. Ainda ontem na cidade de Mossul (ocupada) foi cortada a cabeça a mais sete iraquianos, incluídas três mulheres; acusados de… bruxaria. E se este continuar de braços cruzados à espera duma intervenção divina ela será por certo de Alá, cujo profeta é Maomé.

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