O Estado Islâmico e a bruxaria
Por Antunes Ferreira
O CHAMADO Estado Islâmico continua a demonstrar ser
criminoso, oportunista e arrogante. As duas decapitações dos jornalistas
norte-americanos, James Forley e Steven Sottloff e a possivelmente próxima de
um outro trabalhador da comunicação social, desta feita um inglês, David Hains,
tem motivado os comentários mais diversos sobre a barbárie em nome do Alcorão.
Mas comentários, entre os lamentos e o nojo, não passam disso mesmo –
comentários. Entretanto mais alguém foi decapitado: um soldado curdo.
Os fundamentalistas, que fizeram vídeos sobre as execuções,
alertaram Obama que o faziam para retaliar a entrada da força aérea dos Estados
Unidos que vem bombardeando as posições dos jihadistas. No vídeo do segundo
assassinato, o executor afirmou que: "Estou de
volta, Obama, e eu estou de volta por causa de tua política externa arrogante
para com o Estado islâmico, por causa de tua insistência em prosseguir com os teus
bombardeamentos em Amerli, Zumar Mosul, apesar de termos feito avisos sérios. Assim
como os mísseis continuam a atacar o nosso povo, a nossa faca continuará a
atacar o pescoço do teu povo."
Isto é intolerável, é execrando, é um atentado à liberdade e
à democracia. Os criadores do novo Califado assassinam muçulmanos como eles, às
centenas de cada vez, por os considerarem mancomunados com o imperialismo
ianque ou porque são xiitas sendo que eles são sunitas radicais. Por isso as
execuções criminosas também têm atingido muitos sunitas. Segundo testemunhas, as mulheres são violadas e assassinadas e, os homens
enforcados. Os terroristas também fazem empalamentos, crucificações e
desmembramentos.
No Ocidente as reacções efectivas
têm sido poucas ou nenhumas. Obama tem demonstrado uma indecisão que, pelo
menos, já levou a opinião pública norte-americana a chamar-lhe “maricas”. No
Reino Unido Cameron tenha desesperadamente fazer “qualquer coisa” mas por
enquanto o resultado é zero. Hollande preocupa-se mais com as declarações da antiga primeira-dama francesa, Valérie Trierweiler, que
escreveu um livro sobre os anos em que viveu com ele, tentando dar à opinião
pública a imagem correcta do homem com quem viveu e do político que governa a
França. Os comentários não são bons nem para um lado nem para o outro e falam
de uma "tragicomédia".
A União Europeia não sabe
(pelo menos até agora) o que fazer perante a monstruosidade que o jihadistas
continuam a praticar. De resto, a UE é cada vez mais uma montanha russa. Mas
que vai perdendo as intenções com que Shuman e Monnet tinham quando avançaram
para uma comunidade europeia. Montanha russa que cada vez mais vai descendo por
plano inclinado e raramente tenta chegar ao cimo. Pode ser, infelizmente, o
início do descalabro.
Mas vejamos o perigo que a Europa corre. O Estado Islâmico compreenderia inicialmente os territórios da Síria e,
pelo menos a parte sunita do Iraque. Porém a vontade declarada é mais
abrangente. Segundo o desenho dos seus mapas, em cinco anos pretenderiam
conquistar todo o norte de África, os Balcãs até à Áustria e Espanha e
Portugal. Num continente que (ainda) é o nosso, de abdicação em abdicação, o
avanço muçulmano não pode ser negado. Na quinta-feira, 4 de Setembro, o
grupo ameaçou destronar o presidente russo Vladimir Putin por apoiar o regime
sírio.
E no entretanto continua a matança
de xiitas, curdos, assírios, cristãos, arménios, yazidis, drusos, shabaks e mandeanos, alguns pouco conhecidos (ou mesmo
desconhecidos) no mundo (ainda) ocidental. Ainda ontem na cidade de Mossul
(ocupada) foi cortada a cabeça a mais sete iraquianos, incluídas três mulheres;
acusados de… bruxaria. E se este continuar de braços cruzados à espera duma
intervenção divina ela será por certo de Alá, cujo profeta é Maomé.
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