27.10.14

A nossa bandeira e os trapos deles

Por Ferreira Fernandes 
Há dias, um casal de turistas - ela de niqab, só uma frincha para os olhos - estava na primeira fila da Ópera de Paris, na Bastilha. Cantava-se La Traviata, de Verdi. "La traviata" é Violetta, uma cortesã apaixonada pelo jovem burguês Alfredo, que também a ama. Sofrem pressões familiares e ela, para o proteger, afasta-se e morre tuberculosa. Um dramalhão? Certo, mas sobre a liberdade (no caso, de amar) que até uma mulher de má vida tem direito. Em 1853, quando estreou a ópera, Verdi escrevia a um amigo: "Ela é livre, ela ama, como eu, uma vida solitária que a livra de toda a obrigação..." Falava da sua criação, de Violetta? Não. Verdi falava da mulher com quem vivia, Giuseppina Strepponi, uma mulher livre, já com dois filhos, e com quem o compositor irá acabar os seus dias. La Traviata é um monumento da humanidade, beleza imensa mas também, só por existir, uma ópera que combate preconceitos e injustiças que são tenazes contra as mulheres. No fim do primeiro ato, naquela La Traviata, na Bastilha, os membros do coro viram o insulto que tapava a mulher do niqab. Alguns recusaram cantar - e o casal foi expulso (há uma lei francesa que proíbe o niqab em público). Isto é, houve dois lados. O costume é só o do niqab, com a sua propaganda - trapos ostensivos - da submissão da mulher. Por uma vez, uma cidade europeia entendeu que tem uma luta política e pública a travar. Os direitos iguais da mulher são a maior das nossas bandeiras. «DN» de 27 Out 14

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2 Comments:

Blogger brites said...


às vezes apetece-me alistar-me!...
Fique tranquilo, já sou velha!
E não não sou cruel ,como são os terroristas de lá ...e de cá!
quantos não perderam a cabeça, pelas mãos "limpas" de ocidentais?









27 de outubro de 2014 às 15:35  
Blogger brites said...



o comentário que fiz não corresponde exactamente ao que queria exprimir.
preferia ter dito só que
a sobranceria não provoca empatia. pode soltar demónios imprevisíveis.

27 de outubro de 2014 às 16:59  

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