A realidade nas prateleiras de brinquedos
Por Ferreira Fernandes
A série televisiva Breaking Bad (Rutura Total) passa-se no Novo México seco, duro e magnífico, como a série. O professor de Química Walter White, ao saber ter cancro, torna-se produtor de drogas (metanfetaminas) para deixar alguma coisa à família. Arregimenta um ex-aluno, Jesse, e é um dealer infeliz, numa história muito premiada. Um dia destes, uma mãe da Florida entrou numa loja de brinquedos Toys "R" Us e, em estantes com Barbies, viu também bonecos de Walter e Jesse com batas e máscaras de laboratório clandestino, com armas e sacolas, para os dólares do tráfico ou para os comprimidos ilegais... A mãe protestou, fez-se uma petição e o comediante Conan O"Brien, que tem um programa diário de TV, ironizou: "Se eu vivo na Florida e quero que os meus filhos tenham contacto com vendedores de droga, deixo-os brincar na rua, não os levo a uma loja de brinquedos..." A Toys "R" Us, cadeia de lojas legal, não querendo passar por cadeia com bandidos dentro, tirou os alucinados bonecos das suas prateleiras. Por falar em laboratório, esta história confirma as experiências contraditórias a que somos sujeitos. A mesma sociedade que tenta criar uma bolha protetora à volta das crianças (proíbe canções como Atirei o Pau ao Gato ou expurga os livros de Mark Twain dos seus termos antigos), estende-lhes brinquedos com o pior que a rua tem. Podem fazer--se várias teorias sobre isso. Mas nenhuma ensina mais do que saber que é assim e assim vai ser.
«DN» de 24 Out 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
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