O menu dos disparates
Por Antunes Ferreira
Para não fugir à normalidade, esta semana política foi recheada
de confusões feitas pelos diversos membros do (des)Governo & arredores. Nos
campos da Educação, da Justiça, da Fiscalidade e dos Estrangeiros continuou o
regabofe do na manhã de hoje dizes sim, ao meio-dia, talvez e ao jantar, não.
Lembro aqui um anúncio radiofónico da minha infância. “De manhã, à tarde e à
ceia coma carne de baleia”. Pelo menos tinha uma constante: comer carne de
baleia; porém, hoje, à ceia pode ser que sim, pode ser que não e talvez
corresponda ao quem sabe levante o braço?
Com o expresso apoio de Coelho, o ministro Crato fez um
excelente trabalho na abertura do ano lectivo e na colocação dos professores.
Não pode haver dúvidas de que assim foi, tal a convicção posta pelo nosso
primeiro na sua afirmação. Curiosamente, dias depois, o ministro da
(des)Educação veio prometer que até ao fim deste mês de Outubro algumas falhas
iam ser remendadas, quer-se dizer, resolvidas. Tome-se o caso dum professor
cujo nome é Rui Pinto Monteiro, tem 36 anos de
idade, está a dar aulas em Biscoitos, na Ilha Terceira, nos Açores, e pede ao
Ministério da Educação e Ciência (MEC) que faça o favor de o retirar das listas
de colocação de professores.
Segundo
o Público, que tem acompanhado o caso, o docente já tinha sido colocado em 75
escolas (obviamente diferentes) mas, ao fim da última quinta-feira os avisos
por mail oriundos da DGAE, a Direcção Geral da Administração Escolar, já tinham chegado às 97 colocações. “Bati o
recorde” foi o comentário que fez ao quotidiano. E que seria se a abertura do
ano escolar não tivesse corrido tão bem?
Na
(in)Justiça continua a saga da plataforma CITIUS. Seis dias depois de a
ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, ter assegurado que o sistema
informático dos tribunais de primeira instância voltara ao “pleno
funcionamento”, vários presidentes de comarcas desmentem o regresso à
normalidade. E ontem o Sindicato dos Funcionários Judiciais calcula que
existam 500 mil processos fora do famigerado CITIUS, segundo um inquérito
realizado,na segunda-feira, a mais de 130 oficiais de justiça.
Nos Negócios Estrangeiros surgiu mais uma
trapalhada do ministro sénior Rui Machete. Desta feita em declarações à Rádio
Renascença, disse que havia algumas portuguesas que tinham embarcado na
tragédia do “Estado Islâmico” queriam voltar a Portugal por estarem desiludidas
com os jihadismo. Aqui d’el rei bradou a oposição, a segurança do país pode ter
sigo perigosamente afectada. Machete, depois de um Conselho de Ministros onde
se terão passado cenas para adultos, veio olimpicamente dizer que não via o
motivo para tanta agitação: ele não mencionara nomes e por isso não incorrera
em qualquer falta que pudesse pôr em perigo a segurança do país.
Houve logo que recordasse o caso das declarações
do mais velho ministro do ainda (des)Governo em relação a Angola, pedindo
desculpa dos casos de justiça que decorriam em Portugal contra cidadãos
angolanos. Resultado, o presidente José Eduardo dos Santos (que não é flor que
se cheire e está no topo da lista dos chefes de Estado africanos mais ricos)
suspendeu sine dia uma cimeira que
estava combinada ao nível de presidentes,
Finalmente o maior embrulho do (des)Governo nesta
semana foi resultante das afirmações de Coelho sobre a tal “cláusula de
salvaguarda” para determinados contribuintes que São Bento vai colocar na
Reforma do IRS. Face a isso, e apesar de declarações de toda a gente do
Ministério das Finanças (entenda-se todos os responsáveis, incluindo
naturalmente o Sr. Núncio e a Dr.ª Maria Luís), a guerra continua acesa com uma
simples interrogação à cabeça: afinal, pago ou não pago?
Mas o que foi mais estranho foram os comentários do fiscalista Rui Duarte Morais, (que
liderou a comissão para a reforma do IRS), ter vindo lamentar que a discussão
em torno das propostas de alteração no IRS esteja centrada em saber se um
contribuinte vai pagar mais ou menos no próximo ano. Quando se propõem medidas
fiscais para beneficiar as famílias com filhos, disse, é claro que haverá um
agravamento para quem não os tem. Para ele, não ver isso é “mascarar” o óbvio.
E a solução prometida pelo Governo para – através de uma cláusula de
salvaguarda –
não prejudicar os contribuintes sem filhos poderá pôr em causa a simplificação
do imposto, um dos objectivos da própria reforma.
O
menu dos disparates (des)governamentais está na mesa. Bom
proveito, depois de consumado e consumido, obviamente.
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