É o Natal - em Portugal
Por Antunes Ferreira
SEMPRE PENSEI que este país se
transformara numa anedota negra que nunca se poderia agravar. Porém,
agravou-se. Substancialmente. Ainda que no final do episódio a GNR tenha feito
marcha-atrás (a ocorrência decorreu numa auto-estrada…) na decisão inicial, ou
Portugal é um hospital psiquiátrico, vulgo manicómio – e parece que é – ou como
diziam Camilo de Oliveira e Ivone Silva num programa dos anos oitenta na
televisão, “está tudo grosso, está tudo grosso”. E como ainda estamos em
território de Boas Festas em que não se deve trabalhar, recorro à transcrição
de diversos meios da comunicação social. E além disso sempre fui muito
preguiçoso…
“Um ambulância, afecta ao
INEM, transportava pela A8 uma doente com 80 anos, assinalando que seguia em
marcha de emergência. Mas o estado de saúde da idosa agravou-se e os
bombeiros tiveram de parar, na berma, para proceder às manobras de reanimação.
Porém a senhora veio a falecer.
Os bombeiros de Óbidos, alegando que não podem transportar cadáveres
em ambulâncias, tiveram de parar na A8 devido ao falecimento da doente que
levavam numa viatura do INEM. Chamaram a GNR, como dita o protocolo (…)
A GNR multou os Bombeiros
de Óbidos por terem parado uma ambulância, em marcha de socorro, na berma
da Autoestrada 8 (A8). A notícia foi avançada pelo Correio da Manhã e confirmada
posteriormente pela TSF e pela SIC, que registaram declarações do comandante
dos bombeiros.
O que mais desagradou aos ‘soldados da paz’ nem foi o valor da multa (120 euros,
paga no imediato pelo condutor), mas o facto de terem sido os próprios
bombeiros a chamar as autoridades ao local” Entretanto (…) médico do INEM a atestou o óbito no local. Foi
então que os bombeiros alertaram as autoridades, alegando que não podem, por
lei, transportar cadáveres.
Quando uma patrulha do
destacamento de trânsito da GNR de Torres Vedras chegou, instruiu o condutor
para movimentar a ambulância, lembrando que é proibido parar na berma de uma
auto-estrada. Os bombeiros contrapuseram que não podiam prosseguir a marcha com
um cadáver a bordo, o que levou os militares a passar o auto de contra
ordenação, multando o condutor em 120 euros.
“Quando me acordaram, cerca
das 4h00 da manhã, pensei que era um pesadelo e ainda agora me custa a
acreditar que isto tenha acontecido”, desabafou o comandante dos Bombeiros de
Óbidos, Carlos Silva, em declarações ao Público. O oficial garantiu que entrou
em contacto com os responsáveis do INEM para garantir “que o bombeiro que
conduzia a ambulância não seja prejudicado por fazer serviço voluntário e por
cumprir a lei”.
Devido à contra ordenação, o condutor está em risco de
perder a carta de condução. Carlos Silva frisou ainda que, numa altura em que
os bombeiros aguardavam pela chegada das autoridades, uma viatura da
concessionária da autoestrada passou pelo local e permaneceu para dar apoio,
tendo reforçado a sinalização.
Da parte da GNR, o gabinete de
relações públicas do Comando Geral sustentou, em declarações à TSF, que a
patrulha apenas cumpriu a lei, tendo procurado salvaguardar a segurança pública
ao instruir a ambulância do INEM para prosseguir a marcha até ao ramal mais
próximo, onde poderia encostar na berma.
De acordo com o major Marco
Cruz, o facto do incidente ter ocorrido de madrugada não atenua os riscos nem
“molda” a legislação. A GNR actuou como entidade fiscalizadora e se os
Bombeiros de Óbidos quiserem reclamar, segundo o major, devem recorrer à
entidade administrativa: a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária. Mas, eis que se dá uma
volta de 360º. Para que se tente compreender este imbróglio – se é que ele é
entendível – recorro de novo à comunicação social. Talvez porque quinta-feira
foi o dia de Natal, a reviravolta da Guarda Republicana bem podia ser
considerada um presente próprio da época… Mas não é caso para brincadeiras,
muito menos de ofertas. “A multa aplicada aos
bombeiros de Óbidos por terem parado uma ambulância na Autoestrada 8 (A8, que
liga Lisboa a Leiria) para socorrer uma doente, que acabou por morrer, vai ser
retirada, divulgou a GNR. O expediente vai
ser arquivado, por se ter verificado não existir infracção”, esclarece a Guarda
num comunicado sobre a situação que envolveu uma patrulha de trânsito e uma
ambulância dos Bombeiros Voluntários de Óbidos.
O caso deu
origem a exposições da corporação para os ministérios da Saúde e da
Administração Interna e para o Serviço Nacional de Protecção Civil,
«solicitando que o valor da multa [pago na hora pelo motorista da ambulância]
fosse devolvido e para que a infracção fosse retirada da carta do bombeiro»,
explicou Carlos Silva.
A corporação
ainda não recebeu resposta às exposições, mas a GNR recuou na posição inicial
depois de “terem sido realizadas averiguações internas e ponderada toda a
informação disponível sobre as circunstâncias que levaram ao levantamento de um
auto de contra-ordenação”, refere o comunicado que conclui não ter sido
praticada qualquer infracção, pelo que o caso será arquivado.”
Correu por aí um dito jocoso próprio de outra época
que não esta, mais precisamente o Entrudo. “É Carnaval, ninguém leva a mal” Mas
agora é a das Festas natalícias. E agora então, numa apropriação imprópria,
deixo um outro slogan: “É o Natal – em Portugal”
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